Harpócrates

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Estátua ptolomaica de bronze, representando Harpócrates como o deus Hórus quando criança (Fundação Gulbenkian, Lisboa).

Harpócrates (em grego: Ἃρποκράτης), na mitologia grega, é o deus do silêncio, do segredo e da confidencialidade. Foi adaptado pelos antigos gregos a partir da representação infantil do deus egípcio Hórus. Para os antigos egípcios, Hórus representava o Sol recém-nascido, surgindo todo dia ao amanhecer. Quando os gregos conquistaram o Egito, com Alexandre, o Grande, acabaram por transformar o Hórus egípcio numa divindade helenística conhecida como Harpócrates (do egípcio Har-pa-khered ou Heru-pa-khered, lit. "Har, a Criança"). Vide entidade feminina equivalente cultuada pelos romanos , a deusa Tácita .

Hórus

Na mitologia egípcia, Hórus foi concebido por Ísis, a deusa-mãe, com Osíris, o deus-rei original do Egito, que havia sido assassinado por seu irmão, Seti, e se tornara o deus do mundo inferior. No sincretismo alexandrino os gregos fundiram Osíris com o seu deus do mundo inferior, Hades, produzindo Serápis.

Entre os egípcios o Hórus adulto era considerado o deus vitorioso do Sol, que a cada dia vencia a escuridão. Frequentemente é representado com a cabeça de um falcão, animal que era sagrado ao deus por voar alto sobre a Terra. Eventualmente, após disputar diversas batalhas contra Seti, Hórus finalmente obteve a vitória e se tornou soberano do Egito. Todos os faraós do Egito eram vistos como reencarnações do Hórus vitorioso.

Estelas retratando Heru-pa-khered sobre o dorso de um crocodilo, segurando serpentes em suas mãos estendidas, eram erguidas nos pátios dos templos egípcios, onde eram imersas ou lustradas com água; esta água era então utilizada para abençoar e curar, devido aos supostos poderes de cura e proteção do deus.

Ísis, Serápis e seu filho, Harpócrates (Museu do Louvre)

Com a moda alexandrina e romana pelos cultos de mistério, na virada do milênio, o culto a Hórus se tornou mais difundido, e passou a ser associado com o de Ísis e Serápis (Osíris).

Harpócrates

Estatueta em bronze de Harpócrates, Begram, Afeganistão, século II

Assim, Harpócrates, Hórus enquanto criança, personifica o sol recém-nascido a cada dia, a primeira força do sol do inverno. As estátuas egípcias representam este Hórus como um garoto nu, com o dedo indicador sobre a boca - uma associação com o hieróglifo que significa "criança", sem qualquer relação com o gesto greco-romano e moderno que indica "silêncio". Os antigos gregos e romanos, no entanto, sem compreender o significado do gesto, fizeram de Harpócrates o deus do silêncio e do segredo, com base no relato de Marco Terêncio Varrão, que, ao falar sobre Caelum ("Céu") e Terra ("Terra") em sua obra De lingua latina, afirmou:

"Estes deuses são os mesmos que no Egito são chamados de Serápis e Ísis, embora Harpócrates, com seu dedo, me faça um sinal para que eu fique quieto. Os mesmos primeiros deuses eram chamados, no Lácio, de Saturno e Ops."

Ovídio descreveu Ísis:

"Sobre sua cenho se encontravam os chifres lunares, com espigas rutilantes de nítido ouro, regiamente decorados; com ela o cão ladrador Anúbis, a santa Bubástis, o multicolorido Ápis e aquele que reprime a voz e com o dedo os silêncios persuade."
Eros Harpocrático, figura em terracota feita em Mirina, 100-50 a.C. (Museu do Louvre.

Imagens baratas em gesso de Harpócrates, próprias para altares domiciliares, foram encontradas por todo o Império Romano. Agostinho de Hipona era familiar com o gestual icônico de Harpócrates, embora tenha atribuído a Varrão a interpretação insistentemente evemerista de um bom cristão:

"E como em praticamente todos os tempos onde Serápis e Ísis eram cultuados existia também uma figura que parecia pedir silêncio através de um dedo apoiado contra seus lábios; Varrão acredita que o gesto tinha o mesmo significado, e que nenhuma menção devia ser feita a eles terem sido seres humanos."

Marciano Capela, autor de um texto alegorístico que permaneceu uma referência por toda a Idade Média reconhecia a imagem do "garoto com o dedo apoiado contra seus lábios" porém não mencionou o nome de Harpócrates; "...quidam redimitus puer ad os compresso digito salutari silentium commonebat". O garoto foi identificado, no entanto, como Cupido em glosas, um sincretismo que já havia resultado na figura do Cupido Harpocrático (ilustração à direita).

Segundo Plutarco Harpócrates teria sido o segundo filho de Ísis, nascido prematuramente e manco. Hórus, o Filho, se tornou o protetor especial das crianças e de suas mães. Por ter sido curado de uma mordida de cobra venenosa por tornou-se um símbolo da esperança nos deuses que cuidavam dos sofrimentos da humanidade.

Referências

  1. Os antigos gregos, através da interpretatio graeca, identificavam Seti com Tifão, ou Caos.
  2. Apenas através da interpretatio romana; na realidade Serápis era uma criação sincretista helenístico-egípcia, disseminada pelo Império Romano, e Ísis estava associada à cultura egípcia tradicional, juntamente com Osíris.
  3. Ovídio, Metamorfoses 9:688 - 9:692.
    aut stetit aut visa est. inerant lunaria fronti
    cornua cum spicis nitido flaventibus auro
    et regale decus; cum qua latrator Anubis,
    sanctaque Bubastis, variusque coloribus Apis,
    quique premit vocem digitoque silentia suadet;
    (Metamorfoses online)
  4. Agostinho, A Cidade de Deus, XVIII.
  5. Kinney, Dale. "Spolia from the Baths of Caracalla in Sta. Maria in Trastevere" The Art Bulletin 68.3 (Setembro de 1986:379-397, "Isis and Serapis in medieval mythography" p. 391 nota 73.
  6. Pinch, Geraldine. Egyptian Mythology, p. 147, Oxford University Press US, 2004, ISBN 0195170245

Bibliografia

  • Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em inglês cujo título é «Harpocrates», especificamente desta versão.
  • Cumont, Franz, The Oriental Religions in Roman Paganism, Dover Publications, 1956.
  • Peck, Harry Thurston, Harper's Dictionary of Classical Antiquities, 1898: "Harpocrates."
  • Sacks, David, Language Visible: Unraveling the Mystery of the Alphabet, Random House 2003.