No mundo atual, Candi adquiriu relevância indiscutível em diversas áreas. Desde o seu impacto na sociedade até à sua influência na cultura popular, Candi conseguiu captar a atenção de milhões de pessoas em todo o mundo. Seja através da música, do cinema, da política ou de qualquer outro meio, Candi tornou-se um tema recorrente de conversa e uma fonte inesgotável de debate e reflexão. Neste artigo exploraremos diferentes facetas de Candi e analisaremos seu impacto hoje, bem como sua projeção no futuro.
Candi é a designação local dos templos hindus e budistas construídos sobretudo durante o período Zaman Hindu-Buddha (ou da indianização), entre os séculos IV e XV, na Indonésia.
O Grande Dicionário da Língua Indonésia define candi como um antigo edifício de pedra usado para cultos religiosos ou para guardar cinzas de reis e sacerdotes budistas e hindus. Os arqueólogos indonésios descrevem os candis como estruturas sagradas do passado hindu e budista, usadas para cerimónias e rituais religiosos na Indonésia. No entanto, o termo é também frequentemente aplicado a antigas estruturas seculares, como portões, ruínas urbanas, tanques e locais de banho, enquanto que os santuários que servem especificamente como túmulos são chamados cungkup.
Na arquitetura hindu do Bali, o termo candi refere-se a uma estrutura de pedra ou de tijolo com um santuário com uma só cela, com pórtico, entrada e escadas, encimado por um telhado piramidal, situado num pura (templo ou complexo religioso hindu). A maior parte dos candis balineses foram inspirados nos templos de Java Oriental e funcionam como santuário de uma divindade. Para os balineses, um candi não é necessariamente antigo, pois continuam a ser construídos ou reconstruídos candis nos puras, como é o caso do templo reconstruído em Alas Purwo [en], na regência de Banyuwangi [en] de Java Oriental.
Na perspetiva budista contemporânea indonésia, candi refere-se a santuários antigos ou novos. Por exemplo, há várias viaras contemporâneas na Indonésia que contêm réplicas em tamanho real de templos budistas famosos ou são reconstruções de antigos templos, como as réplicas do Candi Pawon e das perwaras (pequenos templos) de Plaosan [en]. No budismo, o papel de um candi como santuário é por vezes intermutável com o de uma estupa, uma estrutura em abóbada para guardar relíquias budistas or cinzas de sacerdotes budistas, patronos ou benfeitores. Borobudur, Muara Takus [en] e Batujaya [en], por exemplo, são de facto estupas muito elaboradas.
Na língua indonésia moderna , a designação de candi é igualmente aplicada aos antigos templos do Camboja (como Angkor Wat), Vietname, Tailândia, Birmânia e Índia.
Entre os séculos VII e XV, foram construídas centenas de estruturas religiosas em tijolo e em pedra em Java, Sumatra e Bali. Estas são chamadas candi. O termo refere-se a outras estruturas pré-islâmicas, incluindo portões e até locais de banho, mas a sua principal manifestação é o santuário religioso.
Na literatura de arte, o termo candi é geralmente aplicado a uma estrutura baseada no tipo de santuário indiano com uma só cela, encimado por uma torre piramidal e com um pórtico. Candi é o prefixo de muitos templos em forma de montanha da Indonésia, construídos como uma representação do mitológico monte Meru, a morada dos deuses e epítome do universo. No entanto, o termo candi é também aplicado a muitas estruturas não religiosas do mesmo período hindu e budista da Indonésia, como gopuras (portões), petirtaans (tanques) e alguns complexos habitacionais. Como exemplos de candis que não são templos podem apontar-se os portões de Bajang Ratu e Wringin Lawang de Majapait, o tanque de banhos Candi Tikus em Trowulan [en] e Jalatunda nas encostas do monte Penanggungan [en], ou restos de estruturas de habitação ou urbanas como Ratu Boko ou algumas ruínas de Trowulan.
É provável que em Java os templos se chamassem originalmente प्रासाद; romaniz.: prāsāda prāsāda (em sânscrito: प्रासाद), como acontece na inscrição de Manjusrigrha, datada de 792 d.C., que menciona "Prasada Vajrasana Manjusrigrha" referindo-se ao templo de Sewu [en]. O termo prasada [en] refere-se a uma oferenda sagrada ou sacramento hindu e está relacionado com o termo tailandês e cambojano prasat, que se refere à estrutura em forma de torre num templo.
Na perspetiva hindu, acredita-se que o termo candi deriva de Chandi [en] (ou Caṇḍīka), uma das manifestações da deusa guerreira e da morte Durga. Isso sugere que na antiga Indonésia, os candis tinham funções mortuárias e estavam ligados à vida após a morte. A associação do nome candi, candika ou durga com os templos hindu-budistas é desconhecido na Índia e noutras partes do Sudeste Asiático fora da Indonésia, como o Camboja, Tailândia ou Birmânia.
Outra teoria, da perspetiva budistam sugere que o termo candi pode ser uma forma localizada da palavra páli cedi (em sânscrito: caitya), que está relacionada com o termo tailandês chedi, sinónimo de estupa e pode também estar relacionado com o bodisatva Cundi [en].
Os historiadores sugerem que os antigos templos de Java eram também usados para guardar as cinzas de reis e membros da realeza que eram cremados, o que está de acordo com o conceito budista das estupas como estruturas para guardar relíquias budistas, que incluem cinzas e restos mortais de sacerdotes, reis budistas ou patronos do budismo. A estátua da divindade guardada na garbhagriha (câmara principal) do templo é frequentemente modelada a partir do rei morto e é considerada uma personificação divinizada do rei representado como Vixnu ou Xiva, de acordo com o conceito de devaraja. Um exemplo disso é a estátua de Airlangga, rei de Kahuripan de Java Oriental do século XI, que é retratado como Vixnu cavalgando Garuda no templo de Belahan.
A arquitetura dos candis segue as tradições da arquitetura hindu típica, baseadas no Vastu shastra [en]. O desenho dos templos, especialmente em Java Central, incorpora uma planta de templo em forma de mandala e as típicos enormes coruchéus em forma de torre dos templos hindus. Os candis representam a montanha sagrada Meru, a morada dos deuses. Todo o templo é um modelo do universo hindu, segundo a cosmologia hindu e os níveis de Loka.
Na estrutura dos candis há uma hierarquia de zonas, que vão desde a menos sagrada até às mais sagradas. Na tradição indiana da arquitetura hindu-budista os elementos são arranjados em três partes, cada uma correspondente a um dos elementos cósmicos. A planta do templo segue a regra de alocação do espaço em três elementos, usualmente identificados como o pé (base), o corpo (centro) e a cabeça (telhado). As três zonas são arranjadas de acordo com uma hierarquia sagrada. cada um dos conceitos hindus e budistas tem os seus próprios termos, mas a essência desses conceitos é idêntica. Tanto a planta (horizontal) do complexo cmo a sua estrutura vertical consistem em três zonas:
O arqueólogo indonésio R. Soekmono classificou os estilos de candi em dois grupos principais: o de Java Central, que data sobretudo de antes de 1000 d.C., e o de Java Oriental, posterior a 1000 d.C., que inclui também os templos de Sumatra e do Bali.
Caraterísticas dos candis | ||
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Partes do templo | Estilo de Java Central | Estilo de Java Oriental |
Forma da estrutura | Tendencialmente volumosa e pesada | Tendencialmente esguia e alta |
Telhado | Apresenta claramente secções em degrau, que geralmente consistem de três partes | As partes múltiplas das secções em degrau formam uma estrutura mais suave |
Pináculo | Estupa nos templos budistas; ratna ou vajra nos templos hindus | Cúbico, sobretudo nos templos hindus; estruturas cilíndricas de tipo dagoba (estupa) em alguns templos budistas |
Ornamentos dos portais e nichos | Estilo kala-makara; cabeça de Kala de boca aberta sem o maxilar inferior localizada no topo do portal, ligado a uma dupla Makara em cada um dos lados do portal | Cabeça de Kala sorrindo sarcasticamente com a boca completa, com maxilar inferior, localizada no topo do portal; não existem Makaras. |
Relevos | Muito salientes, com imagens em estilo naturalista | Pouco salientes, com imagens estilizadas similares aos fantoches Wayang do Bali |
Desenho e localização do templo principal | Mandala concêntrica, simétrica e formal, com o templo principal situado no centro do complexo e rodeado por templos perwara mais pequenos em filas regulares | Linear e assimétrico, seguindo a topografia do local; o templo principal situa-se na parte mais traseira ou mais distante da entrada, frequentemente na parte mais alta do complexo; os templos perwara situam-se em frente ao templo principal |
Orientação | Geralmente virados para leste | Geralmente virados para oeste |
Materiais de construção | Principalmente andesito | Principalmente tijolo vermelho |
Há exceções em relação materiais de construção, formas e localização a estes traços gerais de desenho. Por exemplo, os templos de Penataran, Jawi, Jago, Kidal e Singasari pertencem ao grupo de Java Oriental mas são de andesito, como os de Java Central. As ruínas dos templos de Trowulan, em Java Central, como Brahu, Jabung e Pari, são de tijolo. O grande templo de Prambanan, em Java Central, é alto e esguio como os de estilo de Java Oriental, mas o telhado é do estilo de Java Central. Há também casos em que a localização não corresponde ao estilo dominante, como por exemplo o Candi Badut, que apesar de situado em Malangue, Java Oriental, é do período (data do século VIII) e estilo de Java Central.
Os complexos mais antigos do norte de Java Central, como os do planalto de Dieng, são mais pequenos e têm apenas vários templos com relevos mais simples, enquanto que os complexos posteriores, como o de Sewu [en], são mais grandiosos, com relevos mais elaborados e de planta concêntrica.
No período Majapait assistiu-se ao revivalismo de elementos megalíticos austronésios, com o pirâmides em degraus (punden berundak). Estes traços de desenho podem ser vistos nos candis de Sukuh e Ceto, no monte Lawu, na parte oriental de Java Central, e nos santuários em escada das encostas do monte Penanggungan, que se assemelham às pirâmides maias.
A maior parte dos candis em bom estado de conservação são feitos de andesito. Este facto deve-se principalmente à durabilidade da pedra comparativamente com os tijolos em relação ao clima tropical e chuvas torrenciais. No entanto, num certo período, especialmente durante a era Majapait, o tijolo vermelho foi muito usado como material de construção. Os materiais de construção mais usados na construção de templos na Indonésia são os seguintes:
Nos candis da antiga Java é notável a aplicação de Kala-Makaras como elementos decorativos e simbólicos. Kala é o gigante que simboliza o tempo e a colocação da sua cabeça por cima dos portais simboliza que o tempo consome tudo. Kala é também uma figura protetora, que com a sua face feroz gigantesca amedronta e afugenta os espíritos malévolos. Makara é um monstro mitológico marinho, o vahana (veículo) do deus marinho Varuna, que geralmente é representado como meio mamífero e meio peixe. Em muitos templos é representado na foram de meio peixe ou foca com a cabeça de um elefante ou, em alguns casos, com a cabeça e mandíbulas de um crocodilo, com uma tromba de elefante, as presas de um javali, os olhos dardejantes de um macaco, as escamas e corpo flexível de um peixe e as penas encaracoladas da cauda de um pavão. Tanto Kala como Makara são usados como figuras protetoras da entrada dos templos.
A cabeça gigante de Kala situa-se geralmente no cimo da entrada, com Makaras salientes em ambos os lados da cabeça de Kala, flanqueando o portal ou projetando-se no canto superior como antefixos. Também se encontram Kalas-Makaras nos corrimões das escadas. Os intricados relevos em pedra das Makaras gémeas que flaqueiam o lanço inferior das escadas, formam corrimões com os seus corpos curvados. Além de Makaras, da cabeça de Kala pode também sair uma língua, que forma um corrimão. Este tipo de decoração das escadarias pode ser observado em Borobudur e Prambanan. É frequente que as trombas de Makara serem esculpidas de forma a parecerem estar a segurar ornamentos de ouro ou a jorrar joias, enquanto que da sua boca frequentemente jorram figuras anãs de ganás ou de animais como leões ou papagaios.
Nos antigos templos de Java, o simbolismo linga-yoni só se encontra templos hindus, mais precisamente nos do rito xivaíta, estando ausentes dos templos budistas. O linga é um poste ou cilindro que simboliza o falo do deus Xiva e do poder criativo. Alguns lingas são segmentados em três partes: uma base quadrada, que simboliza Brama, uma parte central octogonal, símbolo de Vixnu, e uma ponta redonda, símbolo de Xiva. Os lingas do período javanês clássico que chegaram aos nosso dias são geralmente de pedra polida com esta forma.
Os lingas estão implantados numa base quadrada com um buraco no meio, chamado yoni, a representação simbólica do útero ou da vagina e também um símbolo de Parvati, a consorte de Xiva. O yoni tem geralmente uma espécie de bica, usualmente decorado com uma naga, que ajuda a escoar e recolher os líquidos derramados sobre o linga-yoni durante os rituais hindus. Como símbolo religioso,, a função do linga é principalmente de adoração e ritual. Os vestígios mais antigos de linga-yoni encontram-se nos templos de Dieng e datam de cerca do século VII. Originalmente, é provável que cada templo tivesse um par completo de linga-yoni, mas na maior parte dos templos, o linga desapareceu.
Nas tradições dos reinados javaneses, certos lingas eram erigidos como símbolos do próprio rei ou da sua dinastia, localizando-se em templos reais para expressarem a consubstancialidade do rei com Xiva. Um exemplo disso é o linga-yoni do templo de Gunung Wukir, que segundo a inscrição de Canggal (datada de 732) está ligado ao rei Sanjaia [en] de Matarão. Outros templos que contêm linga-yonis completos são, por exemplo, o de Sambisari e de Ijo, em Java Central. Os templos de Penataran e de Jawi, em Java Oriental, também têm linga-yonis', mas os respetivos lingas já não existem.
As paredes dos candis apresentam frequentemente baixos-relevos, que além de elementos decorativos têm significados simbólicos e narrativos. Os baixos-relevos mais requintados encontram-se em Borobudur e Prambanan. As paredes dos primeiros quatro terraços de Borobudur são um exemplo magnífico de baixos-relevos, considerados os mais elegantes e graciosos do budismo antigo. Os relevos de Borobudur representam escrituras budistas, como o Karmavibhangga (lei do carma), Lalitavistara (nascimento de Buda), Jataka, Avadana e Gandavyuha. Em Prambanan, os baixos-relevos representam as escrituras hindus Ramáiana e Bagavata Purana (conhecida popularmente como Krishnayana).
Os baixos-relevos de Borobudur representam também muitas cenas da vida quotidiana da Java do século VIII, desde a vida na corte palaciana até às pessoas comuns das aldeias, passando por eremitas das florestas. As pessoas representadas são reis, rainhas, príncipes, nobres, cortesãos, soldados, servos, pessoas do povo, sacerdotes e eremitas. Também são representados templos, mercados, fauna e flora, além de arquitetura vernacular nativa. Há ainda representações de seres espirituais míticos das crenças budistas, como asuras, deuses, bodisatvas, kinnaras, gandharvas e apsarás. As imagens representadas nos baixos-relevos são frequentemente usadas como referências pelos historiadores na investigação de certos temas, como o estudo da arquitetura, armamento, economia, vestuário e meios de transporte do século VIII no Sudeste Asiático Marítimo. Um dos baixos-relevos famosos de Borobudur é o chamado Navio de Borobudur, uma embarcação com forquilha de brandal dupla.
Há diferenças significativas de estilo e estética dos baixos-relevos do período javanês central (antes do século XI) e do período javanês oriental (século XI e seguintes). O estilo javanês central, que pode ser visto em Borobudur e Prambanan, é mais requintado e naturalístico. Os relevos são muito salientes da base e as imagens são de estilo naturalista, com proporções do corpo ideais. Em contrapartida, os baixos-relevos de estilo javanês oriental são pouco salientes e as imagens apresentam uma pose rígida e estilizada, similar à dos fantoches Wayang do Bali. O estilo javanês oriental encontra-se atualmente preservado na arte, estilo e estética dos baixos-relevos dos templos balineses, nos fantoches wayang e na arte de pintura balinesa de Kamasan.
As imagens de casais de kinnaras (macho) e kinnaris (fêmea) podem ser vistas nos templos de Borobudur, Mendut, Pawon, Sewu, Sari e Prambanan. Geralmente são representados como aves com cabeça humana ou humanos com membros inferiores de pássaro. O par de Kinnara e Kinnari é geralmente representado como guardando Kalpataru (Kalpavriksha), a árvore da vida ou, por vezes, guardando um pote de tesouro. Em Borobudur há baixos-relevos representando a história da famosa kinnari Manohara.
As paredes inferiores do exterior dos templos de Prambanan eram decoradas com filas de pequenos nichos com imagens de simha (leões) flanqueadas por dois painéis com árvores kalpataru luxuriantes. Estas árvores sagradas que os hindus acreditam satisfarem desejos, são ladeadas por kinnaras ou animais, como pares de pássaros, veados, ovelhas, macacos, cavalos, elefantes, etc. O padrão de leão num nicho flanqueado por árvores kalpataru é típico do complexo de templos de Prambanan, pelo que é chamado "painel Prambanan".
Nos templos budistas, os painéis de baixos-relevos são frequentemente decorados com imagens requintadas da figura masculina de um bodisatva e da figura masculina duma Tara, juntamente com gandharvas (músicos celestiais) e, por vezes, de ganás anões. Estas são as divindades que residem no paraíso Tushita da cosmologia budista. Há imagens notáveis de bodisatvas nas paredes exteriores dos templos de Plaosan, Sari, Kalasan, Pawon e, obviamente, de Borobudur.
Nos templos hindus, os casais celestes de devatas (masculinos) e apsarás (femininos) encontram-se geralmente na decoração de painéis das paredes dos templos. Eles são o correspondente hindu dos casais de Bodisatvas e Tara. No outro lado dos painéis narrativos de Prambanan, a parede do templo ao longo da galeria era decorada com estátuas e relevos de devatas e de sábios brâmanes. No templo de Xiva há figuras de Lokapalas guardiões celestes das direções. Os sábios brâmane dos Vedas são representados nos relevos das paredes do templo de Brama, enquanto que no templo de Vixnu há figuras de devatas flanqueados por duas apsarás. A representação de seres celestes e deuses menores — devatas e apsarás — descreve o conceito hindu do domínio sagrado de Svarloka, que tem correspondência na identificação do templo em torre hindu como epítome do Meru da cosmologia hindu.
A maior parte dos maiores complexos de templos da antiga Java eram guardados por um par de estátuas de Dvarapalas, que eram os guardiões dos portões. Os gémeos gigantes geralmente flanqueiam a entrada em frente do templo ou estão nos quatro pontos cardeais. Os Dvarapalas têm a forma de gigantes ou demónios aterrorizadores, que impedem a entrada dos espíritos malignos nos recintos sagrados do templo. Na arte de Java Central, o Dvarapala é geralmente representado como um gigante corpulento bastante gordo, com um rosto feroz e olhos brilhantes redondos esbugalhados, garras salientes, cabelo encaracolado e bigodes, com uma grande barriga redonda. Usualmente segura um gada (maça) e por vezes facas como armas.
Na arte de Java Oriental e do Bali, o Dvarapala é geralmente bastante magro, com a exceção do Dvarapala gigantesco com 3,7 metros de altura de Singasari, perto de Malangue. As estátuas mais notáveis de Dvarapalas são as do Candi Sewu, onde cada ponto cardeal do grande complexo é guardado por um par de grandes Dvarapalas que estão em excelente estado de conservação. Os Dvarapalas de Sewu tornou-se o protótipo do guardião Gupolo da arte javanesa posterior, que se pode obsrvar nos keratons (palácios reais) de Joguejacarta e Suracarta. Outro belo exemplo de dois pares de Dvarapalas são os que guardam os templos gémeos de Plaosan.
É usual que os portais de entrada dos candis sejam também guardados por leões (em sânscrito: Siṁha; em indonésio e javanês: Singa), um em cada lado da entrada. Nunca houve leões nativos no Sudeste Asiático no período histórico, pelo que a representação de leões na arte antiga dessa região do mundo, especialmente em Java e no Camboja, está longe do estilo realista que se observa na arte persa ou grega, pois baseia-se totalmente na imaginação. As representações culturais e a reverência do leão como besta nobre e poderosa no Sudeste Asiático foi influenciado pela cultura indiana, especialmente através do simbolismo budista.
Em Borobudur, as quatro entradas principais são guardadas por estátuas de andesito de leões. Nos tronos de Buda e de bodisatvas que se encontram nos templos budistas de Kalasan e Mendut há representações de leões, elefantes e makaras. No Candi Penataran, em Java Oriental, há uma estátua de um leão alado.
As religiões a que foram consagrados os templos da antiga Java são facilmente identificadas pelos pináculos no cimo dos telhados. Nos templos budistas estes são constituídos por estupas em forma de sino, enquanto que nos templos hindus são usadas ratnas (ornamentos em forma de pináculo que simbolizam uma joia).
O melhor exemplo de estupas típicas da arquitetura clássica de templos javaneses é o das de Borobudur, em forma de sino. A estupa do terraço superior redondo de Borobudur do Arupadhatu é constituída por um pedestal redondo em forma de lótus, um domo com inclinação ligeira em forma de sino, com uma estrutura retangular no cimo, que serve de base a um pináculo hexagonal. Cada uma das estupas de Borobudur está perfurada por numerosas aberturas decorativas de forma retangular ou de losango. No interior das estupas pefuradas há estátuas de Budas sentados. É provável que Borobudur tivesse começado por ser, não um templo, mas uma estupa, uma estrutura que é um santuário de Buda. Por vezes as estupas eram construídas somente como símbolos de devoção budista. Em contrapartida, os templos são locais de culto.
O pináculo ratna tem a forma de uma pirâmide obtusa curvada, sendo por vezes cilíndrica. Tem várias bases ou pedestais com costuras ornamentais, chamadas pelipit em javanês. Embora mais comum em templos hindus, também se encontra em alguns templos budistas. Dois bons exemplos de templos com pináculo ratna são Sambisari e Ijo. Em Prambanan, são usadas vajras como pináculos, em vez de ratnas. Nos períodos mais tardios podem encontrar-se falsos linga-yonis ou cubos nos telhados dos templos hindus e dagobas (estupas) cilíndricas nos telhados dos templos budistas.
A maior concentração de candis encontra-se principalmente na regência de Sleman da região de Joguejacarta e nas regências de Magelang e Klaten, em Java Central, o que corresponde à região histórica da planície de Kedu, vale do rio Progo, área de Temanggung-Magelang-Muntilan e planície de Kewu (o vale do rio Opak, em volta de Prambanan), o berço da civilização javanesa. Outros locais importantes, com complexos de templos notáveis, incluem as regiões de Malangue, Blitar e Trowulan, em Java Oriental. Em Java Ocidental também há alguns templos, como em Batujaya e Cangkuang. Fora de Java, encontram-se candis no Bali, Sumatra e, embora sejam raros, no sul de Calimantã (Bornéu). Em Sumatra há dois locais notáveis pela concentração de candis: o complexo de Muaro Jambi, na província de Jambi, e o sítio arqueológico de Padang Lawas, na Sumatra Setentrional.
Os candis tanto podem estar em terrenos inclinados como em terrenos planos. Prambanan e Sewu, por exemplo, encontram-se em terreno plano e de baixa altitude, enquanto que os templos de Gedong Songo e de Ijo situam-se em terraços a grande altitude ou encostas de montanhas. Por seu lado, Borobudur foi construído sobre uma colina rochosa. A posição, orientação e organização espacial dos templos na paisagem e o seu desenho arquitetónico foram determinados por fatores sócio-culturais, religiosos e económicos da população, regimes políticos ou pela civilização que os construíu e suportou.
A planície de Kedu situa-se a noroeste de Joguejacarta, a oeste do vulcão Merapi e a sudoeste de Magelang.
A leste de Joguejacarta:
Situado cerca de 20 km a leste de Suracarta:
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Trowulan foi a capital do Império de Majapait, que controlou a maior parte dos portos importantes do Sudeste Asiático e que sobrevivia graças a um sistema de irrigação sofisticado.