Hoje em dia, Agostinho de Hipona tornou-se um tema de grande relevância e interesse para um amplo espectro de pessoas ao redor do mundo. Com o avanço da tecnologia e da globalização, Agostinho de Hipona adquiriu importância crescente em diferentes áreas da sociedade. Da política à ciência, Agostinho de Hipona demonstrou o seu impacto e influência de formas significativas. Neste artigo exploraremos as diversas facetas e dimensões de Agostinho de Hipona, analisando sua importância e relevância no mundo contemporâneo. Além disso, examinaremos o seu impacto em diferentes setores e o seu potencial para transformar o futuro.
Santo Agostinho de Hipona
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| Retrato de Santo Agostinho de Philippe de Champaigne, século XVII | |
| Bispo de Hipona; Doutor da Igreja (Doctor Gratiae) | |
| Nascimento | 13 de novembro de 354 Tagaste, Numídia (moderna Souk Ahras, Argélia) |
| Morte | 28 de agosto de 430 (75 anos) Hipona, Numídia (moderna Annaba, Argélia) |
| Veneração por | Toda Cristandade |
| Principal templo | San Pietro in Ciel d'Oro, Pavia, Itália |
| Festa litúrgica | 28 de agosto no ocidente 15 de junho no oriente 4 de novembro na Igreja Assíria do Oriente |
| Atribuições | criança; pomba; pena (de escrever); concha; coração trespassado; segurando um livro com uma pequena igreja; cajado episcopal; mitra |
| Padroeiro | teólogos; agostinianos; impressores; Diocese de Coimbra, Leiria-Fátima, diversas cidades e dioceses[1] |
| Santo Agostinho de Hipona | |
|---|---|
| Magnum opus | Confissões A Cidade de Deus |
| Principais interesses | Teologia, Epistemologia e Filosofia |
| Ideias notáveis | Predestinação, Pecado original, Análise da Trindade |
Aurélio Agostinho de Hipona (em latim: Aurelius Augustinus Hipponensis;[2] Tagaste, 13 de novembro de 354 – Hipona, 28 de agosto de 430), conhecido universalmente como Santo Agostinho, foi um dos mais importantes teólogos e filósofos nos primeiros séculos do cristianismo,[3] cujas obras foram muito influentes no desenvolvimento do cristianismo e filosofia ocidental. Foi bispo de Hipona, uma cidade na província romana da África. Escrevendo na era patrística, é amplamente considerado como o mais importante dos Padres da Igreja no ocidente. Suas obras-primas são De Civitate Dei ("A Cidade de Deus") e "Confissões", ambas ainda muito estudadas atualmente.
De acordo com Jerônimo, seu contemporâneo, Agostinho "restabeleceu a antiga fé".[4] Em seus primeiros anos, Agostinho foi muito influenciado pelo maniqueísmo e, logo depois, pelo neoplatonismo de Plotino.[5] Depois de se converter ao cristianismo e aceitar o batismo (387), desenvolveu uma abordagem original à filosofia e teologia, acomodando uma variedade de métodos e perspectivas de uma maneira até então desconhecida.[6] Acreditando que a graça de Cristo era indispensável para a liberdade humana, ajudou a formular a doutrina do pecado original e deu contribuições inspiradoras ao desenvolvimento da doutrina da guerra justa.
Quando o Império Romano do Ocidente começou a ruir, Agostinho desenvolveu o conceito de "Igreja Católica" como uma "Cidade de Deus" espiritual (na obra homônima) distinta da cidade terrena e material de mesmo nome.[7] "A Cidade de Deus" estava também intimamente ligada ao segmento da Igreja que aderiu ao conceito da Trindade como postulado pelo Concílio de Niceia e pelo Concílio de Constantinopla.[8]
Na Igreja Católica Romana e na Comunhão Anglicana, Agostinho é venerado como um santo, um proeminente Doutor da Igreja e o patrono dos agostinianos. Sua festa é celebrada no dia de sua morte, 28 de agosto. Muitos protestantes, especialmente os luteranos e calvinistas, consideram Agostinho como um dos "pais teológicos" da Reforma Protestante por causa de suas doutrinas sobre a salvação e graça divina. Na Igreja Ortodoxa, algumas de suas doutrinas não são aceitas, como a da cláusula Filioque,[9] do pecado original e do monergismo.[9] Ainda assim, apesar destas controvérsias, é considerado também um santo, sendo comemorado como "Beato Agostinho" no dia 15 de junho.[10] Ainda assim, numerosos autores ortodoxos advogaram a favor de suas obras e de sua personalidade, como Genádio II de Constantinopla e Seraphim Rose.

Agostinho nasceu em 354 no município de Tagaste na província romana da Numídia.[11][12] Sua mãe, Mônica, era uma cristã devota e seu pai, Patrício, um pagão convertido ao cristianismo no leito de morte.[13] Estudiosos acreditam que entre seus ancestrais estavam berberes, latinos e fenícios,[14] mas ele próprio considerava-se um púnico.[15] Seu nome, Aurélio, sugere que os ancestrais de seu pai eram libertos da gente Aurélia e que receberam a cidadania romana depois do Édito de Caracala (Marco Aurélio Antonino) em 212 e, portanto, a família já era romana do ponto de vista legal por pelo menos um século quando Agostinho nasceu.[16] Assume-se que Mônica era berbere por causa do nome,[14][17] mas, como a família era formada por honestitores, uma classe mais elevada de cidadãos chamados de "homens honrados", é muito provável que Agostinho tenha sido educado em latim.[14] Aos onze anos, ele foi enviado para uma escola em Madauro (atual M'Daourouch), uma pequena cidade númida a apenas 30 quilômetros ao sul de Tagaste, e ali aprendeu literatura latina e as práticas e crenças pagãs.[18] Foi ali também, por volta de 369 ou 370, que leu o diálogo perdido de Cícero, "Hortênsio", que o próprio Agostinho credita como responsável por despertar seu interesse em filosofia.[19]
Aos dezessete, graças à generosidade de um amigo, Romaniano,[19] Agostinho mudou-se para Cartago para estudar retórica. Embora tenha sido criado um cristão, passou a seguir ali o maniqueísmo, para desespero de sua mãe.[20] Como todos os jovens de sua época e classe social, Agostinho adotou um estilo de vida hedonista por um tempo, associando-se a outros jovens que se vangloriavam de suas aventuras sexuais com mulheres e homens. Os mais velhos estimulavam os mais inexperientes a contar ou inventar histórias sobre aventuras para que fossem aceitos.[21] É deste período uma famosa oração de Agostinho, "Senhor, conceda-me castidade e continência, mas não ainda".[22]
Dois anos depois, Agostinho iniciou um romance com uma jovem cartaginesa, mas, provavelmente para manter-se em condições de realizar o desejo de sua mãe de casar com alguém de sua própria classe social, o casal se manteve em concubinato[23] por mais de treze anos, período no qual tiveram um filho, Adeodato,[24] um rapaz considerado extremamente inteligente por seus contemporâneos.[25]
Entre 373 e 374, Agostinho ensinou gramática em Tagaste. No ano seguinte, mudou-se para Cartago para dirigir uma escola de retórica e lá permaneceu pelos nove anos seguintes.[19] Perturbado pelo comportamento indomável de seus estudantes, fundou, em 383, uma escola em Roma, onde acreditava estarem os maiores e mais brilhantes retóricos. Porém, se desapontou com a apatia com que foi recebido pelas escolas romanas. Para piorar, seus estudantes, quando chegava o momento de pagar pelas aulas, simplesmente fugiam. Seus amigos maniqueístas então o apresentaram ao prefeito urbano, Símaco, que tentava conseguir um professor de retórica para servir na corte imperial em Mediolano (Milão).[26] Agostinho conseguiu a posição e viajou para o norte para assumi-la no final de 384. Aos trinta anos de idade, já havia conquistado a mais visível de todas as posições acadêmicas do mundo latino, justamente numa época que tais postos eram portas de entrada para carreiras políticas. Neste período, embora demonstrasse algum fervor pelo maniqueísmo, jamais tornou-se um iniciado (um "eleito"), permanecendo um "ouvidor", o nível mais baixo da hierarquia da seita.[26]
Ainda em Cartago, já havia começado a se distanciar do maniqueísmo, em parte por causa de um frustrante encontro com o bispo Fausto de Milevi, um importante expoente da teologia maniqueísta.[26] Em Roma, afastou-se completamente do maniqueísmo e abraçou o ceticismo do movimento da Nova Academia. Em Mediolano, sua mãe retomou a pressão para que ele se reconvertesse ao cristianismo. Os próprios estudos de Agostinho sobre o neoplatonismo também passaram a atraí-lo, uma direção que foi depois estimulada por seu amigo Simpliciano.[19] Mas foi o bispo de Mediolano, Ambrósio, quem mais influenciou Agostinho. Como ele, Ambrósio era um mestre na retórica, mas era mais velho e mais experiente.[27]
Em Mediolano, Agostinho permitiu que sua mãe lhe arranjasse um casamento e foi por conta disso que ele abandonou sua concubina. Acredita-se que Agostinho realmente amasse sua parceira de mais de treze anos e o rompimento foi bastante difícil para ele. Confirmando esta tese, há evidências de que Agostinho tenha considerado seu relacionamento como equivalente ao matrimônio, apesar de não ser válido perante a lei.[28] Em suas Confissões, ele admitiu que a experiência da separação acabou amortecendo gradualmente sua sensibilidade à dor. Agostinho teve que esperar por mais dois anos até que sua noiva atingisse a idade para casar e logo em seguida tomou uma nova concubina. Ele finalmente terminou o noivado com sua prometida (que tinha onze anos), mas não retomou o relacionamento com nenhuma de suas antigas concubinas.
Alípio de Tagaste foi o responsável por afastar Agostinho do casamento ao ensinar-lhe que jamais poderia viver no amor a sabedoria se casasse. Muitos anos depois, Agostinho relembrou seus dias em Cassicíaco (Cassago Brianza), uma vila nos arredores de Mediolano onde viveu com seus seguidores, e descreveu-os como Christianae vitae otium – a vida cristã de ócio.[29]

No verão de 386, depois de ouvir a história da vida de Santo Antão do Deserto por Placiano e seus amigos, Agostinho se converteu. Como ele próprio contou depois, a conversão foi incitada por uma voz infantil que ele ouviu pedindo-lhe para "tomar e ler" (em latim: tolle, lege), o que ele entendeu ser um comando divino para abrir a Bíblia, abri-la e ler a primeira coisa que encontrasse. Agostinho abriu na Epístola aos Romanos num trecho conhecido como "transformação dos crentes", os capítulos 12 ao 15, no qual Paulo delineia como o Evangelho transforma os crentes e seu comportamento. O trecho exato, segundo ele, foi;[30]
| “ | «Andemos honestamente como de dia, não em orgias e bebedices, não em impudicícias e dissoluções, não em contendas e ciúmes; mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo, e não vos preocupeis com a carne para não excitardes as suas cobiças.» (Romanos 13:13–14) | ” |
— Agostinho de Hipona, Confissões[30].
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Ambrósio batizou Agostinho e seu filho Adeodato na Vigília da Páscoa de 387 em Mediolano. Um ano depois, em 388, Agostinho completou sua apologia "Sobre a Santidade da Igreja Católica".[26] No mesmo ano, a família decidiu voltar para a África,[19] mas Mônica morreu em Óstia, perto de Roma, quando se preparava para embarcar.[31] Quando chegaram, passaram a viver aristocraticamente com os rendimentos auferidos pelas extensivas propriedades da família na região.[32][33] Logo depois, Adeotato também faleceu[25] e Agostinho, entristecido, vendeu todo seu patrimônio e deu o dinheiro aos pobres, mantendo apenas a casa da família, que ele converteu numa fundação monástica para si e alguns amigos.[19]
Em 391, foi ordenado sacerdote em Hipona e rapidamente tornou-se um pregador muito famoso - há mais de 350 sermões de Agostinho que se acredita serem autênticos - e um ardoroso adversário do maniqueísmo, sua religião da juventude.[26] Em 395, foi nomeado bispo coadjutor de Hipona e, logo depois, assumiu o trono episcopal,[34] motivo pelo qual é conhecido como "Agostinho de Hipona", uma posição que manteve até sua morte em 430.[35] Suas "Confissões" foram escritas entre 397 e 398, ao passo que "A Cidade de Deus" foi escrita para consolar os cristãos logo depois do traumático saque de Roma pelos visigodos em 410.
Neste período, Agostinho trabalhou incansavelmente para converter o povo de Hipona. Apesar de ter deixado o mosteiro, continuou a levar uma vida asceta na residência episcopal. Para seus companheiros, deixou uma regula que fez com que, muito depois, fosse considerado como o "padroeiro do clero regular".[36]
Grande parte do que sabemos sobre os anos finais de Agostinho foi relatada por seu amigo Possídio, o bispo de Calama (moderna Guelma, na Argélia), em sua obra Sancti Augustini Vita. Possídio admirava Agostinho como uma pessoa intelectualmente poderosa e de retórica arrebatadora que aproveitava todas as oportunidades para defender o cristianismo contra seus detratores. Ele preservou também os traços pessoais de Agostinho em detalhes, revelando um indivíduo que comia pouco, trabalhava muito, desprezava fofocas, evitava as tentações da carne e era muito prudente na administração financeira de sua sé.[37]
Na primavera de 430, os vândalos, uma tribo germânica convertida ao arianismo, invadiram a África romana e cercaram Hipona. Agostinho, porém, já estava irremediavelmente doente. De acordo com Possídio, um dos poucos milagres atribuídos a ele, a cura de um doente, deu-se durante o cerco.[38] Ainda segundo ele, Agostinho passou seus últimos dias em oração e penitência, com salmos pendurados nas paredes de seu quarto para que pudesse lê-los. Antes de morrer, ordenou que a biblioteca da igreja de Hipona e todos os seus livros fossem cuidadosamente preservados, e faleceu finalmente em 28 de agosto de 430.[39] Logo em seguida, os vândalos desistiram do cerco, mas retornaram não muito depois e incendiaram a cidade, destruindo tudo menos a catedral e a biblioteca de Agostinho.[40]
Agostinho foi canonizado por aclamação popular e foi depois reconhecido como Doutor da Igreja em 1298 pelo papa Bonifácio VIII.[41]
De acordo com o "Verdadeiro Martirológio" de Beda, o corpo de Agostinho foi depois trasladado para Cálhari, Sardenha, pelos bispos católicos expulsos do norte da África por Hunerico. Por volta de 720, seu corpo foi novamente trasladado por Pedro, bispo de Pavia e tio do rei lombardo Liuprando, para a igreja de San Pietro in Ciel d'Oro, em Pavia, para protegê-lo contra os frequentes raides dos sarracenos. Em janeiro de 1327, João XII emitiu a bula papal Veneranda Santorum Patrum na qual nomeou os agostinianos como guardiões do túmulo de Agostinho, que foi reformado em 1362 com ricos baixo-relevos com cenas de sua vida.
Em outubro de 1695, trabalhadores em San Pietro in Ciel d'Oro descobriram um sarcófago de mármore com alguns ossos humanos, inclusive parte de um crânio e uma disputa irrompeu entre os eremitas da Ordem de Santo Agostinho e os clérigos dos Cânones Regulares de Santo Agostinho sobre sua autenticidade, estes afirmando que eram autênticos e aqueles, que não. No fim, Bento XIII (r. 1724–1730) ordenou ao bispo de Pavia, monsenhor Pertusati, que decidisse e ele declarou que, na sua opinião, eram verdadeiros.[42]
Os agostinianos foram expulsos de Pavia em 1700 e se refugiaram em Milão levando com eles as relíquias de Agostinho e seu sarcófago desmontado, abrigando tudo na catedral da cidade. San Pietro ficou arruinada e só foi reformada na década de 1870 depois de uma campanha liderada por Agostino Gaetano Riboldi. As relíquias de Santo Agostinho e seu sarcófago foram reinstalados ali em 1896, quando a igreja foi reconsagrada.[43][44]
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Agostinho foi um dos primeiros autores cristãos latinos a professar uma visão clara sobre a antropologia teológica[45] ao defender o ser humano como a união perfeita de duas substâncias, o corpo e a alma. Em seu tratado tardio "Sobre os Cuidados com os Mortos"[46] (420), por exemplo, defendeu o respeito ao corpo dos mortos afirmando que ele era parte da natureza humana.[47] Uma das metáforas preferidas de Agostinho para ilustrar esta unidade é o matrimônio: caro tua, coniunx tua ("Seu corpo é sua esposa").[48][49][50] Ele acreditava que os dois elementos estavam inicialmente em perfeita harmonia, mas, depois da queda da humanidade, passaram a combater entre si de forma dramática. Afirmava também que os dois elementos são parte de duas categorias bem distintas. Enquanto o corpo é um objeto tri-dimensional composto de quatro elementos, a alma não tem dimensões espaciais[51] e é composta por um tipo de substância adequada para governar o corpo e que é parte da razão.[52] Agostinho não estava preocupado, como Platão e Descartes, em explicar em detalhes a metafísica envolvida nesta união. Bastava para ele admitir que os homens eram formados por duas substâncias metafisicamente distintas, sendo a alma superior ao corpo. Esta última afirmação baseada em sua própria classificação hierárquica para todas as coisas, classificando em ordem de importância as coisas que somente existem, as que existem e vivem e, finalmente, as que existem, vivem e tem inteligência ou dispõem da razão.[53][54]
Assim como outros Padres da Igreja, como Atenágoras[55] por exemplo, Agostinho "condenou vigorosamente a prática do aborto induzido" e considerava-o um crime em qualquer estágio da gravidez,[56] embora ele tenha aceitado a distinção entre fetos "formados" e "não formados" mencionada na tradução da Septuaginta do Êxodo 21:22–23, um trecho que, segundo ele, não classificava como assassinato o aborto de um feto "não formado", pois não se podia defender com certeza se ele já teria recebido uma alma.[57]
Os contemporâneos de Agostinho acreditavam que a astrologia era uma ciência exata e genuína; seus praticantes eram considerados como verdadeiros eruditos e chamados mathemathici. A disciplina tinha um importante papel na doutrina maniqueísta e Agostinho se sentiu atraído por este tipo de literatura quando jovem, fascinado principalmente pelos que alegavam poder prever o futuro. Posteriormente, já como bispo, costumava aconselhar seus fieis a evitarem astrólogos que combinassem ciências com horóscopos (é frequente que o termo mathematici nas obras de Agostinho seja traduzido como "matemático"). De acordo com ele, estes não eram verdadeiros estudantes de Hiparco ou Erastótenes e sim "vigaristas comuns".[58][59][60][61]

Em "Cidade de Deus", Agostinho rejeitou tanto a imortalidade da raça humana proposta pelos pagãos quanto as ideias sobre "eras" comuns na sua época (como as pregadas por alguns gregos e pelos egípcios) e que diferiam dos escritos sagrados da Igreja.[62] Em "A Interpretação Literal do Gênesis", Agostinho defende a posição que tudo no universo foi criado simultaneamente por Deus e não nos sete dias do calendário como requer uma interpretação literal do relato no Gênesis. Ele argumenta que a estrutura de seis dias para a criação apresentada ali representa um arcabouço lógico e não uma passagem de tempo física - o relato teria, portanto, um significado espiritual e não físico, mas, nem por isso, menos literal. Uma razão para esta interpretação é a passagem em Siraque 18:1 (conhecido também como Eclesiástico), creavit omni simul ("Criou todas as coisas simultaneamente"), que Agostinho assumiu como prova de que os dias citados em Gênesis 1 não devem ser entendidos fisicamente.[63] Agostinho também não acreditava que o pecado original tenha provocado mudanças estruturais no universo e chegou a sugerir que os corpos de Adão e Eva já teriam sido criados mortais antes da "queda".[64] Finalmente, Agostinho reconhece que a interpretação da história da criação é difícil e lembra que devemos estar dispostos a mudar nossas ideias conforme novas informações forem aparecendo.[65]

Agostinho desenvolveu sua doutrina sobre a Igreja principalmente como reação à controvérsia donatista. Segundo ele, há apenas uma Igreja, mas dentro dela há duas realidades, o aspecto visível (a hierarquia institucional, os sacramentos e os fiéis) e o invisível (as almas dos que estão na Igreja). O primeiro é o corpo institucional estabelecido por Cristo na terra que proclama a salvação e administra os sacramentos enquanto o segundo é o corpo invisível dos eleitos, composto pelos fiéis genuínos de todas as épocas, conhecido apenas por Deus. A Igreja, que é visível e social, é composta por "trigo" e "joio", ou seja, pelos bons e pelos maus (vide a parábola do Trigo e do Joio), até o fim dos tempos. Este conceito era diretamente contrário à suposição donatista de que apenas os que vivem num estado de graça eram parte da igreja "verdadeira" ou "pura" na terra e que sacerdotes e bispos que não estivessem em estado de graça não têm autoridade ou habilidade para conferir os sacramentos.[66]:28 A eclesiologia de Agostinho foi desenvolvida principalmente na "Cidade de Deus". Na obra, ele concebe a Igreja como uma cidade ou um reino celestial governado pelo amor que triunfará no final sobre todos os impérios terrenos que são auto-indulgentes e governados pelo orgulho. Agostinho seguiu Cipriano ao defender que bispos e padres da Igreja são sucessores dos Apóstolos[66] e que sua autoridade é conferida por Deus.
Agostinho originalmente acreditava no premilenialismo, ou seja, que Cristo iria literalmente fundar um reino de 1 000 anos na terra antes da ressurreição geral, mas rejeitou depois a crença afirmando que ela era "carnal". Ele foi o primeiro teólogo a expor uma doutrina sistemática do amilenialismo, embora alguns teólogos e historiadores cristãos acreditem que sua visão era mais próxima dos modernos pós-milenialistas. A Igreja medieval construiu seu sistema escatológico sobre o amilenialismo de Agostinho, no qual Cristo governa a terra espiritualmente através do triunfo da Igreja.[67] Durante a Reforma, teólogos como João Calvino aceitaram a doutrina.
Agostinho ensinou que o destino eterno da alma é determinado na morte[68][69] e que o fogo do purgatório sobre os que estão no estado intermediário purifica apenas os que morreram em comunhão com a Igreja, uma tese que deu origem a diversas outras teologias posteriormente.[68]
Preocupações epistemológicas permearam o desenvolvimento intelectual de Agostinho. Seus primeiros diálogos ("Contra academicos", 386; "De Magistro",389), ambos escritos logo depois de sua conversão, refletem o uso que ele fazia de argumentos céticos e demonstram o desenvolvimento de sua doutrina da iluminação interior. Agostinho também propôs o problema das outras mentes em diversas obras - mais famosamente talvez em "Sobre a Trindade" (VIII.6.9) - e desenvolveu o que viria a ser uma solução padrão: o argumento a partir da analogia a outras mentes.[70] Ao contrário de Platão e outros filósofos anteriores, Agostinho reconheceu a centralidade do testemunho para o conhecimento humano e argumentou que o que os outros nos contam pode nos trazer novos conhecimentos mesmo se não tivermos razões independentes para acreditar em seus relatos testemunhais.[71]
Agostinho afirmou que os cristãos deveriam ser pacifistas como postura pessoal e filosófica.[74] Apesar disso, afirmou que passividade perante uma grave injustiça que só pudesse ser detida com violência seria um pecado. A auto-defesa ou a defesa de outros pode ser uma necessidade, especialmente quando comandada por uma autoridade legítima. Apesar de não detalhar as condições necessárias para a guerra, Agostinho cunhou o termo "guerra justa" em sua obra "Cidade de Deus".[75] Essencialmente, a busca pela paz deve incluir a opção de lutar para preservá-la no longo prazo.[76] Uma guerra justa não pode ser preemptiva; deve ser defensiva e objetivar a restauração da paz.[77]
Tomás de Aquino, séculos depois, baseou-se na autoridade dos argumentos de Agostinho em sua tentativa de definir as condições nas quais uma guerra poderia ser considerada justa.[78][79]
Agostinho tentou e esforçou-se exaustivamente por compreender e desvendar o mistério da Santíssima Trindade e uma de suas principais obras, "Sobre a Trindade", é o resultado deste esforço. Após muito tempo de reflexão, esforço e trabalho, chegou à conclusão que nós, devido à nossa mente extremamente limitada, nunca poderíamos compreender e assimilar plenamente a dimensão (infinita) de Deus somente com as nossas próprias forças e o nosso raciocínio. Concluiu que a compreensão plena e definitiva deste grande enigma só é possível quando, na vida eterna, nos encontrarmos no Paraíso com o Pai, o Filho e o Espírito Santo.[80]
Embora Agostinho não tenha desenvolvido uma mariologia independente, suas afirmações sobre Maria ultrapassam em número e em quantidade as dos autores anteriores.[81] Mesmo antes do Concílio de Éfeso, ele defendeu a sempre Virgem Maria como a "Mãe de Deus" e por causa de sua virgindade, é cheia de graça.[82] Ele também afirmou que a Virgem Maria "concebeu virgem, deu à luz virgem e permaneceu virgem para sempre".[83]
Agostinho defende que o texto bíblico não deve ser interpretado literalmente e sim metaforicamente se ele contradisser o que conhecemos pela ciência ou pela razão (conferida por Deus em sua doutrina). Enquanto cada passagem das Escrituras tem um sentido literal, isto não quer dizer que o texto escritural é sempre mera história; por vezes as passagens são metáforas.[84]
Agostinho acreditava que o pecado original de Adão e Eva foi ou um ato de estupidez ("insipientia") seguido de orgulho e desobediência a Deus ou desde o princípio um ato de orgulho.[85] O primeiro casal desobedeceu a Deus, que os havia comandado que não comessem da Árvore do conhecimento do bem e do mal (Gênesis 2:17),[86] o símbolo da ordem da criação.[87] Segundo ele, o egoísmo fê-los comer o fruto da árvore, levando-os assim ao fracasso em reconhecer e respeitar o mundo como fora criado por Deus, com sua hierarquia de seres e valores. Contudo, eles não teriam sucumbido ao orgulho e falta de sabedoria se Satã não tivesse semeado em seus sentidos "a raiz do mal" ("radix Mali").[88] Agostinho acredita que, neste momento, a natureza humana foi ferida pela concupiscência (ou libido), o que lhes afetou a inteligência e a vontade além das afeições e desejos, inclusive o sexual. Em termos metafísicos, concupiscência não é algo, mas uma má qualidade, a ausência do bem, ou uma ferida.


A compreensão de Agostinho sobre as consequências do pecado original e da necessidade da graça redentora se desenvolveu principalmente durante a controvérsia contra Pelágio e seus discípulos Celéstio e Juliano de Eclano,[66] inspirados por Rufino da Síria, que era, por sua vez, discípulo de Teodoro de Mopsuéstia.[89] Eles se recusavam a concordar que a libido teria ferido a mente e a vontade insistindo que a natureza humana recebeu o poder de agir, falar e pensar quando Deus a criou; ela não poderia perder sua capacidade moral de fazer o bem, mas as pessoas são livres para agir ou não de maneira justa. Em sua defesa, Pelágio lançou mão do exemplo dos olhos: eles tem a capacidade de enxergar, mas a pessoa pode fazer disto bom ou mau uso.[90] Como Joviniano, os pelagianos insistiam que as afeições e desejos humanos também não teriam sido afetados pela queda. A imoralidade - como a fornicação - é unicamente uma questão de vontade, ou seja, o ato de uma pessoa que não usa seus desejos naturais de forma apropriada. Como argumento, Agostinho lembrou que da aparente desobediência da carne frente ao espírito e explicou que este era uma das consequências do pecado original, a punição pela desobediência de Adão e Eva.[91]
Agostinho foi maniqueísta por cerca de nove anos,[92] uma doutrina que ensinava que o pecado original era o "conhecimento carnal".[93]
Porém, a luta de Agostinho para compreender a origem do mal no mundo começou muito antes disso, quando ele tinha apenas dezenove anos.[94] Por "malum" ("mal"), ele entendia toda concupiscência, que interpretava como um vício que domina o ser humano e provoca a desordem moral em homens e mulheres. A. Trapè insiste que sua doutrina sobre concupiscência não pode ser creditada à experiência pessoal de Agostinho, como defendem alguns acadêmicos. Seu casamento, mesmo sem a cerimônia cristã típica, foi exemplar, normal e feliz.[95] Como demonstrou J. Brachtendorf, Agostinho utilizou conceitos estoicos ciceronianos de paixão para interpretar a doutrina paulina de pecado universal e de redenção.[96]
O ponto de vista de que não apenas a alma humana, mas também seus sentidos foram influenciados pela queda de Adão e Eva era amplamente aceito na época de Agostinho entre os Padres da Igreja.[97] É claro que as razões para Agostinho se distanciar dos afazeres da carne era diferente das de Plotino, um neoplatônico que ensinava que apenas através do desprezo pelos desejos carnais que se poderia alcançar o estado final da humanidade.[98] Agostinho ensinava a redenção, ou seja, a transformação e a purificação, do corpo na ressurreição.[99]
Alguns autores interpretam a doutrina de Agostinho como sendo dirigida contra a sexualidade humana e atribuem sua insistência em continência e devoção a Deus como originando na necessidade de Agostinho de rejeitar sua própria natureza altamente sensual, descrita por ele mesmo em suas "Confissões". Mas, à luz de suas obras, esta tese tem sido refutada.[100] A doutrina de Agostinho era que a sexualidade humana havia sido ferida juntamente com o resto da natureza humana e requeria a redenção de Cristo. Esta cura é um processo que se realiza nos atos conjugais. A virtude da continência é conquistada pela graça do sacramento do casamento cristão, que torna-se, assim, um "remedium concupiscentiae".[101][102] A redenção da sexualidade humana só será, porém, completamente realizada com a ressurreição do corpo.[103]
Segundo Agostinho, o pecado de Adão é herdado por todos os seres humanos. Já em seus escritos pré-pelagianos, ele ensinava que o pecado original é transmitido pela concupiscência,[104] que ele considerava como sendo a paixão tanto do corpo quanto da alma, o que resultava que, para ele, a humanidade era uma "massa damnata" ("massa condenada") que destrói a liberdade da vontade. Teólogos reformadores como Lutero e Calvino, também afirmavam que o pecado original destruía completamente a liberdade (veja depravação total).[105]
A formulação da doutrina do pecado original de Agostinho foi confirmada pelos papas Inocêncio I (r. 401–417) e Zósimo (r. 417–418) e pela Igreja em diversos concílios:
Anselmo de Cantuária estabeleceu em seu opúsculo "Cur Deus Homo" (Por que Deus homem?) a definição que foi depois seguida por todos os demais acadêmicos, a de que o pecado original é "a falta de retidão comum a todos os homens", interpretando assim a concupiscência como algo mais do que o desejo sexual segundo a definição de alguns discípulos de Agostinho,[106][107] inclusive Lutero e Calvino, uma doutrina que foi condenada em 1567 pelo papa Pio V.[105]
Alguns intérpretes argumentam que Agostinho ensinava que algumas pessoas estavam predestinadas por Deus a serem salvas por um decreto eterno e soberano que não se baseia na vontade e nem nos méritos do homem. Esta graça salvadora que Deus concede é irresistível e infalivelmente resulta na conversão. Deus também concede àqueles que salva o dom da perseverança para que nenhum dos escolhidos de Deus possa se afastar ou cair em tentação.[66]:44 [108] Este aspecto de sua obra foi enfatizado pelo jansenismo e pelo calvinismo.
Já a Igreja Católica considera que a doutrina de Agostinho é consistente com a do livre arbítrio[109] e afirma que ele disse muitas vezes que qualquer um pode ser salvo se quiser.[109] Apesar de Deus saber quem será salvo e quem não será, sem possibilidade de alguém que estava destinado a se perder ser salvo, este conhecimento representa o conhecimento perfeito de Deus sobre como os homens irão escolher livremente seus destinos.[109]
Também como reação aos donatistas, Agostinho desenvolveu uma distinção entre "regularidade" e "validade" dos sacramentos. São considerados regulares os que são realizados pelo clero da Igreja Católica e os realizados pelos cismáticos são considerados irregulares. Já a validade dos sacramentos não depende da santidade dos padres que os realizam ("ex opere operato"); portanto, sacramentos irregulares são aceitos como válidos desde que tenham sido feitos em nome de Cristo e da forma prescrita pela Igreja. Neste tema, Agostinho se afasta do entendimento de Cipriano, que ensinava que os convertidos de movimentos cismáticos precisavam ser rebatizados.[66] Porém, Agostinho reforçou que os sacramentos administrados fora da Igreja Católica, apesar de verdadeiros, não serviam para nada. Também afirmou que o batismo, apesar de não conferir graça alguma quando feito fora da Igreja, concede ao batizado essa graça tão logo ele seja recebido na Igreja Católica.
Agostinho defendia o entendimento do cristianismo primitivo sobre a presença real de Cristo na Eucaristia afirmando que quando Jesus disse "Este é o meu corpo" era uma referência ao pão que ele tinha nas mãos[110][111] e que os cristãos devem acreditar que o pão e o vinho são de fato o corpo e o sangue de Cristo, a despeito do que veem seus olhos.[112]
Contra os pelagianos, Agostinho sublinhou fortemente a importância do batismo infantil. Sobre o tema da necessidade absoluta do batismo para a salvação, ele foi refinando suas crenças durante a vida, o que provocou uma certa confusão entre os teólogos posteriores sobre qual seria sua posição. Ele disse em de seus sermões que apenas os batizados seriam salvos,[113] uma crença compartilhada por muitos dos primeiros cristãos. Porém, uma passagem de sua "Cidade de Deus" sobre o Apocalipse pode indicar que Agostinho de fato acreditava numa exceção para crianças pequenas nascidas de pais cristãos.[114]
Contra certos movimentos cristãos, alguns dos quais rejeitavam as Escrituras hebraicas, Agostinho afirmou que Deus havia escolhido os judeus como um povo especial[115] e considerava que a dispersão do povo judeu pelo Império Romano como a realização de uma profecia.[116] Ele rejeitava atitudes homicidas contra eles citando parte da mesma profecia: «Não os mates, para que o meu povo não se esqueça; Dispersa-os pelo teu poder, e derruba-os, Jeová, escudo nosso.» (Salmos 59:11). Finalmente, Agostinho acreditava que os judeus se converteriam ao cristianismo no "fim dos tempos" e defendia que Deus havia permitido que eles sobrevivessem como um aviso aos cristãos e como testemunhas de que o Antigo Testamento não fora forjado pela Igreja. Sendo assim, argumentava, os governantes deveriam permitir que eles residissem em terras cristãs.[117]
Para Agostinho, o mal da imoralidade sexual não decorria do ato sexual em si, mas das emoções que tipicamente o acompanham. Em "Sobre a Doutrina Cristã", contrasta o amor, que é a realização por conta de Deus, e o desejo, que não tem a ver com Ele.[118] Para Agostinho, o amor apropriado ocorre quando se nega o prazer egoísta e se subjuga o desejo corporal em homenagem a Deus. Agostinho escreveu que as virgens piedosas que foram estupradas durante o saque de Roma eram inocentes porque não tiveram a intenção de pecar.[119][120]
Porém, a visão de Agostinho sobre os sentimentos de origem sexual como pecaminosos afetou sua visão sobre as mulheres. Considerava, por exemplo, que a ereção masculina era um pecado, apesar de involuntária.[121] A solução encontrada por ele foi colocar o controle sobre ela nas mulheres e na sua habilidade de influenciar os homens.[122]
Agostinho acreditava que a serpente havia se aproximado de Eva porque ela seria menos racional e lhe faltaria o autocontrole dos homens, ao passo que a escolha de Adão de comer o fruto proibido seria um ato de gentileza para que Eva não ficasse sozinha.[122] Além disso, Agostinho acreditava que o pecado havia entrado no mundo porque o homem (o "espírito") não havia controlado a mulher (a "carne").[123] Porém, nem todas as crenças de Agostinho sobre as mulheres são negativas. Em seus "Tratados sobre o Evangelho de João", ao comentar sobre a a samaritana de João 1:42, utiliza-a como uma metáfora para a Igreja.
De acordo com Raming, a autoridade do Decreto de Graciano, uma coleção de leis canônicas católicas romanas que proíbe as mulheres de liderar, ensinar ou dar testemunho, repousa unicamente sobre as crenças dos primeiros Padres da Igreja, e Agostinho, bispo de Hipona, é um dos mais importantes deles.[124] As leis e tradições fundamentadas nas crenças de Agostinho sobre a sexualidade e as mulheres continuam a exercer considerável influência nas posições doutrinárias da Igreja Católica sobre o papel das mulheres.[125]
Todavia, a autoridade moral de Agostinho é posta em causa por algumas fontes, de que é exemplo o seguinte excerto:
De referir que Agostinho só escreveu as suas críticas à história e a determinadas práticas sexuais quando já era homem de meia idade e tinha renunciado, ele próprio, a essas práticas, depois de anos a fio de 'experiências' com prostitutas, de contactos no âmbito da homossexualidade e de um modo de vida que passou a negar a outros em nome de Deus. [126]
Agostinho é considerado uma figura muito influente na história da educação e uma de suas primeiras obras, De Magistro ("Do Professor"), contém muitos de seus pensamentos sobre o tema. Durante sua vida, suas ideias foram mudando conforme foi encontrando novas direções ou formas melhores de expressa-las. Finalmente, já nos seus anos finais, escreveu as "Retratações" (ou "Reconsiderações"), revisitando suas obras mais antigas e melhorando alguns textos. A partir dela, fica claro que Agostinho acreditava que a educação era uma busca incansável por compreensão, significado e verdade que sempre deixa aberto o espaço para a dúvida, o desenvolvimento e a mudança.[127]
Gary N. McCloskey identificou quatro "encontros de aprendizado" ("aulas") na abordagem agostiniana à educação: as experiências transformadoras; a jornada em busca da compreensão, significado e verdade; o aprendizado com os outros em comunidade; e a criação dos hábitos de aprendizado. Segundo ele, Agostinho acreditava ainda que o diálogo, a dialética e a discussão eram as melhores formas de aprender e que este método deveria servir de modelo para as aulas.[127]
Agostinho também introduziu a tese das três diferentes categorias de estudantes às quais os professores deveriam adaptar seus estilos de ensino: a dos que foram bem-educados por professores de renome; a dos que não foram educados; e a dos que tiveram uma educação pobre, mas acreditam terem sido bem-educados. Com os primeiros, o professor deve tomar cuidado para não repetir o que já aprenderam e deve desafiar cada estudante com matérias que ainda não domina completamente. Com o estudante que não recebeu educação, o professor deve ser paciente e estar disposto a repetir os temas até que ele os compreenda e deve ser simpático também. Porém, o mais difícil é aquele que recebeu uma educação inferior e acredita ser alguém que ainda não é. Para estes, Agostinho reforçou a importância de mostrar a diferença entre "ter as palavras e ter a compreensão" e de ajudá-los a permanecerem humildes em seus processos de aprendizado.[127]
Agostinho introduziu a ideia de professores respondendo positivamente às questões que possam receber de seus estudantes, mesmo quando forem interrompidos. Agostinho também criou o estilo "contido" de ensino, que assegurava a compreensão completa de um conceito pelos estudantes através de táticas simples: não bombardeá-los com matéria em excesso; foco em um tópico por vez; ajudar na compreensão do tema ao invés de avançar a matéria rapidamente; antecipação de questionamentos; e, finalmente, ajudar na resolução de dificuldades e na busca pela solução dos problemas.[127]
Outro exemplo de uma grande contribuição de Agostinho para a educação foi seu estudo sobre os estilos de ensino. Segundo ele, existem dois estilos básicos: o "estilo misto", que utiliza linguagem complexa, por vezes "exibida", para ajudar os estudantes a enxergarem a arte e a beleza que está por trás do tema estudado, e o "estilo grandioso", que não é tão elegante quanto o misto, mas é apaixonado e sincero, e tem com objetivo inflamar uma paixão similar a do professor no coração dos estudantes.[127]
Pouco antes da morte de Agostinho, os vândalos, uma tribo germânica que haviam se convertido ao arianismo, invadiram o norte de África controlada até então pelo Império Romano do Ocidente. Os vândalos sitiaram Hipona na primavera de 430, quando Agostinho entrou em sua doença terminal. De acordo com Possídio, um dos milagres atribuídos a Agostinho, a cura de um homem doente, teria ocorrido durante este cerco.[128] Agostinho teria se excomungado ao se aproximar da sua morte em um ato de penitência pública e solidariedade aos pecadores. Passando seus últimos dias em oração e arrependimento, ele pediu que os Salmos penitenciais de Davi fossem pendurados em suas paredes para que pudesse lê-los, o que o levou a "chorar livre e constantemente", de acordo com a biografia de Possídio. Enquanto dirigia a biblioteca da igreja em Hipona , ele ordenou todos os livros ali contidos deveriam ser cuidadosamente preservados, com agostinho acabando por morrer em 28 de agosto de 430.[129] Pouco depois de sua morte, os vândalos abandonaram o cerco de Hipona, mas retornaram logo depois e queimaram a cidade, destruindo tudo, exceto a catedral e a biblioteca de Agostinho, que acabaram intocadas.
Agostinho foi canonizado por aclamação popular e mais tarde reconhecido como Doutor da Igreja em 1298 pelo Papa Bonifácio VIII.[130] Seu dia festivo é 28 de agosto, dia em que ele morreu. Ele é considerado o santo padroeiro dos trabalhadores de cervejaria, impressores, teólogos e de várias cidades e dioceses. Sendo ele também invocado contra dores nos olhos.
Agostinho é lembrado no calendário de santos da Igreja da Inglaterra com um festival em 28 de agosto.[131]

De acordo com o Verdadeiro Martirológio de Beda, o corpo de Agostinho foi posteriormente transladado para Cagliari, na Sardenha, pelos bispos católicos expulsos do Norte da África por Hunerico. Por volta de 720, seus restos mortais foram transportados novamente por Pedro, bispo de Pavia e tio do rei lombardo Liutprando, para a igreja de San Pietro in Ciel d'Oro em Pavia, para salvá-los dos frequentes ataques costeiros dos Árabes. Em janeiro de 1327, o Papa João XXII emitiu a bula papal Veneranda Santorum Patrum, na qual nomeou os agostinianos guardiões do túmulo de Agostinho (chamado Arca ), que foi reconstruido em 1362 e elaboradamente esculpido com baixos-relevos de cenas da vida de Agostinho, criadas por Giovanni di Balduccio.[132]
Em outubro de 1695, alguns trabalhadores da Igreja de San Pietro in Ciel d'Oro, em Pavia, descobriram uma caixa de mármore contendo ossos humanos (incluindo parte de um crânio). , o que resultou no surgimento de uma disputa entre os eremitas agostinianos (Ordem de Santo Agostinho) e os cônegos regulares ( Cônegos Regulares de Santo Agostinho ) sobre se esses eram ou não os ossos de Santo Agostinho. Os eremitas não acreditavam nisso; os cônegos afirmavam que sim. No fim, o Papa Bento XIII (1724–1730) ordenou que o Bispo de Pavia, Monsenhor Pertusati, tomasse uma decisão. O bispo declarou que, na sua opinião, os ossos eram de Agostinho.[133]
Os agostinianos foram expulsos de Pavia em 1785,[134] A arca e as relíquias de Agostinho foram levadas para a Catedral de Pavia em 1799.[135] San Pietro caiu em ruínas, mas foi finalmente restaurado na década de 1870, sob o comando de Agostino Gaetano Riboldi, e reconsagrado em 1896, quando as relíquias de Agostinho e o santuário foram novamente reconstruidos.[136][137]
Em 1842, uma parte do braço direito de Agostinho (cúbito) foi obtida em Pavia e devolvida a Annaba.[138] Atualmente, seu corpo repousa na Basílica de Santo Agostinho dentro de um tubo de vidro inserido no braço de uma estátua de mármore do santo em tamanho real.
A grande contribuição das obras de Agostinho abrangeu diversos campos, incluindo a teologia, filosofia e sociologia. Junto com João Crisóstomo, Agostinho foi um dos estudiosos mais prolíficos da igreja primitiva em quantidade.
Agostinho foi um dos primeiros autores latinos cristãos antigos com uma visão muito clara da antropologia teológica.[139] Ele via o ser humano como uma unidade perfeita de alma e corpo. No seu último tratado Sobre os cuidados a ter com os mortos, secção 5 (420), ele exortou o respeito pelo corpo, alegando que este pertencia à própria natureza da pessoa humana. A figura favorita de Agostinho para descrever a unidade corpo-alma é o casamento: caro tua, coniunx tua – teu corpo é tua esposa.
Agostinho acreditava que, embora inicialmente os dois elementos, corpo e alma, estivessem em perfeita harmonia, após a queda da humanidade eles entraram em combate dramático um com o outro. Ele escreveu sobre eles como duas coisas categoricamente diferentes: o corpo como um objeto tridimensional composto pelos quatro elementos e a alma como espacialmente adimensional. Ele definiu ainda a alma como uma espécie de substância, participante da razão, adequada para governar o corpo.
Agostinho porém não estava focado, como Platão e Descartes, em esforços detalhados para explicar a metafísica da união alma-corpo. Bastou-lhe definir que são metafisicamente distintos: ser humano é ser um composto de alma e corpo, com a alma superior ao corpo. A última afirmação é fundamentada na sua classificação hierárquica das coisas entre aquelas que simplesmente existem, aquelas que existem e vivem, e aquelas que existem, vivem e têm inteligência ou razão.[140]
Os sermões dirigidos ao maniqueísmo centraram-se no seu erro de ensinar que a alma era parte de Deus, em vez de admitir que a alma está "cheia de ilusões".
Tal como outros Padres da Igreja, como Atenágoras,[141] Tertuliano,[142] Clemente de Alexandria e Basílio de Cesareia,[143] Agostinho "condenou vigorosamente a prática do aborto induzido" e, embora ainda desaprovasse o aborto durante qualquer fase da gravidez, fez uma distinção entre abortos precoces e tardios.[144] Ele reconheceu a distinção entre fetos "formados" e "não formados" mencionada na tradução da Septuaginta de Êxodo 21:22–23, que traduz incorretamente a palavra "dano" (do texto hebraico original) como "forma" no grego koiné da Septuaginta. Sua visão baseava-se na distinção aristotélica "entre o feto antes e depois de sua suposta vivificação. Portanto, ele não classificou o aborto de um feto “ainda não formado” como assassinato, pois pensava que não se poderia saber com certeza se o feto havia recebido uma alma.[144]
Agostinho sustentava que “o momento da infusão da alma era um mistério conhecido somente por Deus”.[145] No entanto, ele considerava a procriação como "um dos bens do casamento; o aborto figurava como um meio, juntamente com as drogas que causam esterilidade, de frustrar esse bem. Ele se situava em um continuum que incluía o infanticídio como um exemplo de 'crueldade lasciva' ou 'luxúria cruel'. Agostinho chamou o uso de meios para evitar o nascimento de uma criança de 'obra má': uma referência ao aborto ou à contracepção, ou a ambos."[146]

Em seu livro Cidade de Deus, Agostinho rejeitou as ideias contemporâneas de idades (como as de certos gregos e egípcios) que diferiam dos escritos sagrados da Igreja.[147] Em A Interpretação Literal do Gênesis, Agostinho argumentou que Deus criou tudo no universo simultaneamente e não ao longo de um período de seis dias. Ele argumentou que a estrutura de seis dias da criação apresentada no Livro de Gênesis representa uma estrutura lógica, em vez da passagem do tempo de forma física – ela teria um significado espiritual, em vez de físico, que não é menos literal. Uma razão para esta interpretação é a passagem em Sirach 18:1, creavit omnia simul ("Ele criou todas as coisas de uma só vez"), que Agostinho tomou como prova de que os dias de Gênesis 1 teriam que ser interpretados de forma não literal.[148] Como suporte adicional para descrever os seis dias da criação como um dispositivo heurístico, Agostinho pensou que o evento real da criação seria incompreensível para os humanos e, portanto, precisava ser traduzido.[149]
Agostinho também não prevê o pecado original como causador de mudanças estruturais no universo, e até sugere que os corpos de Adão e Eva já foram criados mortais antes da Queda.[150][151][152] Além de suas opiniões específicas, Agostinho reconheceu que interpretar a história da criação era difícil e observou que as interpretações poderiam mudar caso surgissem novas informações.

Agostinho desenvolveu sua doutrina da Igreja principalmente em reação à seita donatista. Ele ensinou que há uma Igreja, mas dentro desta Igreja há duas realidades, a saber, o aspecto visível (a hierarquia institucional, os sacramentos católicos e os leigos ) e o invisível (as almas daqueles na Igreja, que estão mortos, são membros pecadores ou são eleitos predestinados para o Céu). O primeiro é o corpo institucional estabelecido por Cristo na Terra que proclama a salvação e administra os sacramentos, enquanto o último é o corpo invisível dos eleitos, composto de crentes genuínos de todas as épocas, que são conhecidos somente por Deus. A Igreja, que é visível e social, será composta de "trigo" e "joio", isto é, pessoas boas e más (conforme Mt 13:30), até o fim dos tempos. Este conceito contrariava a afirmação donatista de que apenas aqueles que se encontravam em estado de graça eram a igreja “verdadeira” ou “pura” na terra, e que os padres e bispos que não se encontravam em estado de graça não tinham autoridade ou capacidade para administrar os sacramentos.[153]
A eclesiologia de Agostinho foi mais completamente desenvolvida em Cidade de Deus. Na obra, Agostinho concebe a igreja como uma cidade ou reino celestial, governado pelo amor, que finalmente triunfará sobre todos os impérios terrestres que são autoindulgentes e governados pelo orgulho. Agostinho seguiu Cipriano ao ensinar que os bispos e os padres da Igreja são os sucessores dos Apóstolos,[154] e que a suas autoridades na Igreja são dadas por Deus.
O conceito de Igreja invisível foi defendido por Agostinho como parte de sua refutação da seita donatista, embora ele, como outros Padres da Igreja antes dele, visse a Igreja invisível e a Igreja visível como uma e a mesma coisa, ao contrário dos reformadores protestantes posteriores que erroneamente não identificaram a Igreja Católica como a verdadeira igreja.[155] Ele foi fortemente influenciado pela crença platônica de que a verdadeira realidade é invisível e que, se o visível reflete o invisível, o faz apenas parcial e imperfeitamente (ver Teoria das Formas ).[156] Outros questionam se Agostinho realmente defendia alguma forma de conceito de “Igreja verdadeira invisível”.[157]
Agostinho acreditava originalmente no pré-milenismo, ou seja, que Cristo estabeleceria um reino literal de 1.000 anos antes da ressurreição geral, mas depois rejeitou a crença, considerando-a carnal. Durante o período medieval, a Igreja Católica construiu seu sistema de escatologia no amilenismo agostiniano, onde Cristo governa a terra espiritualmente por meio de sua igreja triunfante.[158]
Durante a Reforma, teólogos como João Calvino aceitaram o amilenismo. Agostinho ensinou que o destino eterno da alma é determinado na morte,[159] e que os fogos purgatoriais do estado intermediário purificam apenas aqueles que morreram em comunhão com a Igreja. O seu trabalho de obras forneceu combustível para o desenvolvimento teológico posterior.[159]
Embora Agostinho não tenha desenvolvido uma Mariologia independente, suas declarações sobre Maria superam em número e profundidade as de outros escritores antigos. Mesmo antes do Concílio de Éfeso, ele defendeu a Sempre Virgem Maria como a Mãe de Deus, acreditando que ela era "cheia de graça" (seguindo escritores latinos anteriores, como Jerônimo ) por conta de sua integridade sexual e inocência. Da mesma forma, afirmou que a Virgem Maria “concebeu virgem, deu à luz virgem e permaneceu virgem para sempre”.
Agostinho considerou que, se uma interpretação literal contradiz a ciência e a razão dada por Deus aos humanos, o texto bíblico deve ser interpretado metaforicamente. Embora cada passagem das Escrituras tenha um sentido literal, esse "sentido literal" nem sempre significa que as Escrituras são mera história; às vezes, elas são mais uma metáfora estendida.
Agostinho ensinou que o pecado de Adão e Eva foi um ato de tolice ( insipientia ) seguido de orgulho e desobediência a Deus ou que o orgulho veio primeiro. O primeiro casal desobedeceu a Deus, que lhes havia dito para não comerem da Árvore do conhecimento do bem e do mal (Gn 2:17). e que árvore era um símbolo da ordem da criação. O egocentrismo fez com que Adão e Eva comessem dela, falhando assim em reconhecer e respeitar o mundo como foi criado por Deus, com sua hierarquia de seres e valores.
Agostinho escreveu que Adão e Eva não teriam caído no orgulho e na falta de sabedoria se Satanás não tivesse semeado em seus sentidos "a raiz do mal" ( radix Mali ). A natureza deles foi ferida, segundo Agostinho, pela concupiscência ou libido, que afetava a inteligência e a vontade humanas, bem como os afetos e desejos, incluindo o desejo sexual.[a] Em termos de metafísica, Agostinho considerou a concupiscência não um estado de ser, mas uma má qualidade, a privação do bem ou uma ferida.
A compreensão de Agostinho sobre as consequências do pecado original e a necessidade da graça redentora foi desenvolvida na luta contra Pelágio e seus discípulos pelagianos, Celéstio e Juliano de Eclano,[154] que foram inspirados por Rufino da Síria, um discípulo de Teodoro de Mopsuéstia.[160] Eles se recusaram a concordar que o pecado original feriu a vontade e a mente humanas, insistindo que a natureza humana recebeu o poder de agir, falar e pensar quando Deus a criou. A natureza humana não pode perder sua capacidade moral de fazer o bem, mas uma pessoa é livre para agir ou não de maneira correta. Pelágio deu um exemplo dos olhos: eles têm capacidade de ver, mas uma pessoa pode fazer bom ou mau uso deles.[161]
Os pelagianos insistiam que as afeições e os desejos humanos também não foram afetados pela queda. Na visão pelagiana, a imoralidade, por exemplo, a fornicação, é exclusivamente uma questão de vontade, ou seja, uma pessoa não usa os desejos naturais de maneira adequada. Em oposição, Agostinho apontou a aparente desobediência da carne ao espírito e explicou-a como um dos resultados do pecado original, punição da desobediência de Adão e Eva a Deus.
Agostinho serviu como "Ouvinte" dos maniqueus por cerca de nove anos,[162] que ensinavam que o pecado original era o conhecimento carnal.[163] Mas a sua luta para compreender a causa do mal no mundo começou antes disso, aos dezanove anos. Por malum (mal) ele entendia principalmente a concupiscência, que ele interpretava como um vício que dominava as pessoas e causava desordem moral em homens e mulheres. Agostino Trapè insiste que a experiência pessoal de Agostinho não pode ser creditada por sua doutrina sobre a concupiscência. Ele considera a experiência conjugal de Agostinho bastante normal, e até exemplar, além da ausência de ritos matrimoniais cristãos.[164] Como J. Brachtendorf mostrou, Agostinho usou o conceito estóico ciceroniano de paixões para interpretar a doutrina de Paulo sobre o pecado universal e a redenção.[165]
A visão de que não apenas a alma humana, mas também os sentidos foram influenciados pela queda de Adão e Eva, era predominante na época de Agostinho entre os Pais da Igreja.[166][167] É claro que a razão do distanciamento de Agostinho dos assuntos da carne era diferente daquela de Plotino, um neoplatônico [b] que ensinava que somente através do desdém pelo desejo carnal se poderia alcançar o estado final da humanidade.[168] Agostinho ensinou a redenção, isto é, a transformação e a purificação do corpo na ressurreição.
Alguns autores percebem a doutrina de Agostinho como dirigida contra a sexualidade humana e atribuem sua insistência na continência e devoção a Deus como proveniente de sua necessidade de rejeitar sua própria natureza altamente sensual, conforme descrito nas Confissões.[c] Augustinho ensinou que a sexualidade humana foi ferida , junto com toda a natureza humana , e requer uma redenção de Cristo.
Essa cura é um processo realizado em atos conjugais. A virtude da continência é alcançada graças à graça do sacramento do matrimônio cristão, que se torna, portanto, um remedium concupiscentiae – remédio da concupiscência.[170] A redenção da sexualidade humana será, contudo, plenamente realizada somente na ressurreição do corpo.
Agostinho também ensinou que o pecado de Adão é herdado por todos os seres humanos. Já nos seus escritos pré-pelagianos, Agostinho ensinava que o Pecado Original é transmitido aos seus descendentes pela concupiscência, que ele considerava como a paixão da alma e do corpo, [d] tornando a humanidade uma massa damnata (massa de perdição, multidão condenada) e enfraquecendo muito, embora não destruindo, a liberdade da vontade.[171] Embora os primeiros autores cristãos ensinassem os elementos da morte física, da fraqueza moral e da propensão ao pecado dentro do pecado original, Agostinho foi o primeiro a adicionar o conceito de culpa herdada ( reatus ) de Adão, pelo qual uma criança era eternamente condenada ao nascer.[172]
Embora a defesa antipelagiana do pecado original de Agostinho tenha sido confirmada em vários concílios, ou seja, Cartago (418), Éfeso (431), Orange (529), Trento (1546) e por papas, ou seja, o Papa Inocêncio I (401–417) e o Papa Zósimo (417–418), sua culpa herdada de condenar eternamente as crianças foi omitida por esses concílios e papas.[173] Anselmo de Cantuária estabeleceu em seu Cur Deus Homo a definição que foi seguida pelos grandes escolásticos do século XIII, a saber, que o Pecado Original é a "privação da justiça que todo homem deve possuir", separando-o assim da concupiscência, com a qual alguns dos discípulos de Agostinho o identificaram,[174][175] como mais tarde Lutero e Calvino.[171] Em 1567, o Papa Pio V condenou a identificação do Pecado Original com a concupiscência.[171]
Agostinho ensinou que Deus ordena todas as coisas, preservando ao mesmo tempo a liberdade humana.[176] Antes de 396, ele acreditava que a predestinação se baseava na presciência de Deus sobre se os indivíduos acreditariam em Cristo, que a graça de Deus era "uma recompensa pelo consentimento humano".[177] Mais tarde, em resposta a Pelágio, Agostinho disse que o pecado do orgulho consiste em assumir que "nós somos aqueles que escolhemos Deus ou que Deus nos escolhe (em sua presciência) por causa de algo digno em nós", e argumentou que a graça de Deus causa o ato individual de fé.[178]
Os estudiosos da teologia ainda estão divididos sobre se o ensinamento de Agostinho implica dupla predestinação ou a crença de que Deus escolhe algumas pessoas para a condenação, bem como algumas para a salvação. Os estudiosos católicos tendem a negar que ele tivesse tal opinião, enquanto alguns protestantes e estudiosos seculares sustentaram que Agostinho acreditava na dupla predestinação.[179] Por volta de 412, Agostinho tornou-se o primeiro cristão a entender a predestinação como uma pré-determinação divina unilateral dos destinos eternos dos indivíduos, independentemente da escolha humana, embora sua seita maniqueísta anterior ensinasse esse conceito.[180][181][182][183] Alguns teólogos protestantes, como Justo L. González[184] e Bengt Hägglund,[185] interpretam o ensino de Agostinho de que a graça é irresistível, resulta na conversão e leva à perseverança.
Em Sobre a Repreensão e a Graça ( De correptione et gratia ), Agostinho escreveu: "E o que está escrito, que Ele quer que todos os homens sejam salvos, embora nem todos os homens sejam salvos, pode ser entendido de muitas maneiras, algumas das quais mencionei em outros escritos meus; mas aqui direi uma coisa: Ele quer que todos os homens sejam salvos, é dito assim para que todos os predestinados possam ser entendidos por isso, porque todo tipo de homens está entre eles."[186]
Falando dos gêmeos Jacó e Esaú, Agostinho escreveu em seu livro Sobre o Dom da Perseverança : "everia ser um fato muito certo que o primeiro é um dos predestinados, o último não."

Também em reação aos donatistas, Agostinho desenvolveu uma distinção entre a "regularidade" e a "validade" dos sacramentos. Os sacramentos regulares são realizados pelo clero da Igreja Católica, enquanto os sacramentos realizados pelos cismáticos são considerados irregulares. No entanto, a validade dos sacramentos não depende da santidade dos sacerdotes que os realizam ( ex opere operato ); portanto, os sacramentos irregulares ainda são aceitos como válidos, desde que sejam realizados em nome de Cristo e da maneira prescrita pela Igreja. Neste ponto, Agostinho afasta-se do ensinamento anterior de Cipriano, que ensinava que os convertidos de movimentos cismáticos devem ser rebaptizados.[154] Agostinho ensinou que os sacramentos administrados fora da Igreja Católica, embora sejam verdadeiros sacramentos, não valem de nada. No entanto, ele também afirmou que o batismo, embora não confira nenhuma graça quando feito fora da Igreja, confere graça assim que alguém é recebido na Igreja Católica.[187]
Agostinho acreditava que havia uma presença real de Cristo na Eucaristia, dizendo que a declaração de Cristo, "Este é o meu corpo", referia-se ao pão que ele carregava em suas mãos, e que os cristãos devem ter fé que o pão e o vinho são de fato o corpo e o sangue de Cristo, apesar do que veem com seus olhos. Por exemplo, ele declarou que "Ele andou aqui na mesma carne e nos deu a mesma carne para sermos comidos para a salvação. Mas ninguém come essa carne sem primeiro adorá-la; e assim se descobre como tal escabelo dos pés do Senhor é adorado; e não somente não pecamos ao adorar, como pecamos ao não adorar."[188]
O professor e autor presbiteriano John Riggs argumentou que Agostinho sustentava que Cristo está realmente presente nos elementos da Eucaristia, mas não de forma corporal, porque seu corpo permanece no Céu.[189]
Agostinho, na sua obra Sobre a Doutrina Cristã, referiu-se à Eucaristia como uma “figura” e um “sinal”.[190]
Contra os pelagianos, Agostinho enfatizou fortemente a importância do batismo infantil. No entanto, sobre a questão de se o batismo é uma necessidade absoluta para a salvação, Agostinho parece ter refinado suas crenças durante sua vida, causando alguma confusão entre teólogos posteriores sobre sua posição. Ele disse em um de seus sermões que somente os batizados são salvos. Essa crença era compartilhada por muitos dos primeiros cristãos. No entanto, uma passagem de sua Cidade de Deus, referente ao Apocalipse, pode indicar que Agostinho acreditava em uma exceção para crianças nascidas de pais cristãos.

Os contemporâneos de Agostinho frequentemente acreditavam que a astrologia era uma ciência exata e genuína. Seus praticantes eram considerados verdadeiros homens de conhecimento e chamados de matemáticos. A astrologia desempenhou um papel importante na doutrina maniqueísta, e o próprio Agostinho foi atraído por seus livros em sua juventude, sendo particularmente fascinado por aqueles que alegavam prever o futuro. Mais tarde, como bispo, ele alertou que se deveria evitar astrólogos que combinam ciência e horóscopos. (O termo "mathematici" de Agostinho, que significa "astrólogos", às vezes é mal traduzido como "matemáticos".) De acordo com Agostinho, eles não eram estudantes genuínos de Hiparco ou Eratóstenes, mas "vigaristas comuns".[191][192][193]
Preocupações epistemológicas moldaram o desenvolvimento intelectual de Agostinho. Seus primeiros diálogos Contra academicos (386) e De Magistro (389), ambos escritos logo após sua conversão ao cristianismo, refletem seu envolvimento com argumentos céticos e mostram o desenvolvimento de sua doutrina de iluminação divina. A doutrina da iluminação afirma que Deus desempenha um papel ativo e regular na percepção e compreensão humana ao iluminar a mente para que os seres humanos possam reconhecer as realidades inteligíveis que Deus apresenta (em oposição a Deus projetar a mente humana para ser confiável de forma consistente, como, por exemplo, na ideia de percepções claras e distintas de Descartes). Segundo Agostinho, a iluminação está ao alcance de todas as mentes racionais e é diferente de outras formas de percepção sensorial. Pretende-se que seja uma explicação das condições necessárias para que a mente tenha uma conexão com entidades inteligíveis.[194]
Agostinho também colocou o problema das outras mentes em diferentes obras, talvez a mais famosa em Sobre a Trindade (VIII.6.9), e desenvolveu o que se tornou uma solução padrão: o argumento da analogia para outras mentes.[195] Em contraste com Platão e outros filósofos anteriores, Agostinho reconheceu a centralidade do testemunho para o conhecimento humano e argumentou que o que os outros nos dizem pode fornecer conhecimento, mesmo que não tenhamos razões independentes para acreditar nos seus relatos testemunhais.[196]
Agostinho afirmou que os cristãos deveriam ser pacifistas como uma postura pessoal e filosófica. Entretanto, a paz diante de uma injustiça grave que só poderia ser evitada pela violência seria um pecado. A defesa de si mesmo ou de outros pode ser uma necessidade, especialmente quando autorizada por uma autoridade legítima. Embora não tenha quebrado as condições necessárias para que a guerra seja justa, Agostinho cunhou a frase em sua obra A Cidade de Deus. Em essência, a busca da paz deve incluir a opção de lutar pela sua preservação a longo prazo. Uma tal guerra não poderia ser preventiva, mas sim defensiva, para restaurar a paz.[197] Séculos mais tarde, Tomás de Aquino usou a autoridade dos argumentos de Agostinho numa tentativa de definir as condições sob as quais uma guerra poderia ser justa.[198][199]
Incluída na teodiceia anterior de Agostinho está a afirmação de que Deus criou os humanos e os anjos como seres racionais dotados de livre-arbítrio. O livre-arbítrio não foi criado para o pecado, o que significa que ele não é igualmente predisposto ao bem e ao mal. Uma vontade contaminada pelo pecado não é considerada tão "livre" como era antes, porque está presa a coisas materiais, que podem ser perdidas ou difíceis de se desfazer, resultando em infelicidade. O pecado prejudica o livre-arbítrio, enquanto a graça o restaura. Somente uma vontade que antes era livre pode ser submetida à corrupção do pecado.[200] Depois de 412, Agostinho mudou sua teologia, ensinando que a humanidade não tinha livre-arbítrio para crer em Cristo, mas apenas livre-arbítrio para pecar: "Na verdade, eu me esforcei em nome da livre escolha da 'vontade' humana, mas a graça de Deus venceu" ( Retract. 2.1).[201]
Os primeiros cristãos opuseram-se às visões deterministas (por exemplo, o destino) dos estóicos, gnósticos e maniqueístas prevalecentes nos primeiros quatro séculos.[202] Os cristãos defenderam o conceito de um Deus relacional que interage com os humanos, em vez de um Deus estóico ou gnóstico que unilateralmente preordenou todos os eventos (embora os estóicos ainda afirmassem ensinar o livre-arbítrio).[203] O estudioso da patrística Ken Wilson argumenta que todos os primeiros autores cristãos com escritos existentes que escreveram sobre o tema antes de Agostinho de Hipona (412) defendiam a livre escolha humana em vez de um Deus determinista.[204] Segundo Wilson, Agostinho ensinou a livre escolha tradicional até 412, quando retornou ao seu treinamento determinístico maniqueísta e estóico anterior ao lutar contra os pelagianos.[205] Apenas alguns cristãos aceitaram a visão de Agostinho sobre o livre-arbítrio até a Reforma Protestante, quando tanto Lutero quanto Calvino abraçaram os ensinamentos deterministas de Agostinho de todo o coração.[206][207]
A Igreja Católica considera que os ensinamentos de Agostinho são consistentes com o livre-arbítrio. Ele costumava dizer que qualquer um pode ser salvo se desejar.[208] Embora Deus saiba quem será e quem não será salvo, sem que estes últimos possam ser salvos durante a sua vida, este conhecimento representa o conhecimento perfeito de Deus sobre como os humanos escolherão livremente os seus destinos.[208]
Agostinho foi um dos primeiros a examinar a legitimidade das leis do homem e tentar definir os limites das leis e direitos que ocorrem naturalmente, em vez de serem impostos arbitrariamente por mortais. Todos os que têm sabedoria e consciência, conclui ele, são capazes de usar a razão para reconhecer a lex naturalis, a lei natural. A lei mortal não deve tentar forçar as pessoas a fazer o que é certo ou evitar o que é errado, mas simplesmente a permanecerem justas. Portanto, " uma lei injusta não é lei ". As pessoas não são obrigadas a obedecer às leis injustas, aquelas que a sua consciência e a sua razão lhes dizem que violam as leis e os direitos naturais.[209]
Agostinho liderou muitos clérigos sob sua autoridade em Hipona para libertar seus escravos como um ato "piedoso e sagrado". Ele corajosamente escreveu uma carta pedindo ao imperador que criasse uma nova lei contra os traficantes de escravos e estava muito preocupado com a venda de crianças. Os imperadores cristãos de sua época permitiram a venda de crianças por 25 anos, não porque aprovassem a prática, mas como uma forma de prevenir o infanticídio quando os pais não conseguiam cuidar de uma criança. Agostinho observou que os arrendatários, em particular, eram levados a contratar ou a vender os seus filhos como meio de sobrevivência.
Em seu livro, A Cidade de Deus, ele apresenta o desenvolvimento da escravidão como um produto do pecado e contrário ao plano divino de Deus. Ele escreveu que Deus "não pretendia que esta criatura racional, que foi feita à sua imagem, tivesse domínio sobre qualquer coisa além da criação irracional — não o homem sobre o homem, mas o homem sobre os animais". Assim, ele escreveu que os homens justos nos tempos primitivos eram feitos pastores de gado, não reis sobre os homens. “A condição de escravidão é o resultado do pecado”, declarou. Em A Cidade de Deus, Agostinho escreveu que sentia que a existência da escravidão era uma punição pela existência do pecado, mesmo que um indivíduo escravizado não cometesse nenhum pecado que merecesse punição. Ele escreveu: "A escravidão é, no entanto, penal e é determinada pela lei que ordena a preservação da ordem natural e proíbe sua perturbação."[210] Agostinho acreditava que a escravidão causava mais danos ao dono do escravo do que à própria pessoa escravizada: "a posição humilde faz tanto bem ao servo quanto a posição orgulhosa faz mal ao mestre."[211] Agostinho propõe como solução para o pecado um tipo de reimaginação cognitiva da situação de alguém, onde os escravos "podem eles próprios tornar sua escravidão de alguma forma livre, servindo não com medo astuto, mas com amor fiel", até que o fim do mundo erradique a escravidão para sempre: "até que toda injustiça passe, e todo principado e todo poder humano sejam reduzidos a nada, e Deus seja tudo em todos."[210]
Contra certos movimentos cristãos, alguns dos quais rejeitavam o uso das Escrituras Hebraicas, Agostinho respondeu que Deus havia escolhido os judeus como um povo especial,[212] e considerou a dispersão do povo judeu pelo Império Romano como o cumprimento de uma profecia. Ele rejeitou atitudes homicidas, citando parte da mesma profecia, a saber: "Não os mate, para que não se esqueçam da tua lei" (Salmo 59:11). Agostinho, que acreditava que o povo judeu seria convertido ao cristianismo no "fim dos tempos", argumentou que Deus permitiu que eles sobrevivessem à sua dispersão como um aviso aos cristãos; como tal, argumentou ele, eles deveriam ter permissão para habitar em terras cristãs.[213]
O sentimento por vezes atribuído a Agostinho de que os cristãos deveriam deixar os judeus "sobreviverem mas não prosperarem" (é repetido pelo autor James Carroll no seu livro A Espada de Constantino, por exemplo)[214] é apócrifo e não se encontra em nenhum dos seus escritos.[215]
Para Agostinho, o mal da imoralidade sexual não estava no ato sexual em si, mas nas emoções que normalmente o acompanham. Em Sobre a Doutrina Cristã, Agostinho contrasta o amor, que é prazer por causa de Deus, e a luxúria, que não é por causa de Deus. Agostinho afirma que, após a Queda, a luxúria sexual ( concupiscentia ) tornou-se necessária para a cópula (como é necessário para estimular a ereção masculina), a luxúria sexual é um resultado maligno da Queda e, portanto, o mal deve inevitavelmente acompanhar a relação sexual ( Sobre o casamento e a concupiscência 1.19 ). Portanto, após a Queda, até mesmo o sexo conjugal praticado apenas para procriar perpetua inevitavelmente o mal ( Sobre o casamento e a concupiscência 1.27; Tratado contra as Duas Cartas dos Pelagianos 2.27). Para Agostinho, o amor adequado exerce uma negação do prazer egoísta e a subjugação do desejo corpóreo a Deus. A única maneira de evitar o mal causado pela relação sexual é tomar o caminho "melhor" ( Confissões 8.2) e abster-se do casamento ( Sobre o casamento e a concupiscência 1.31). O sexo dentro do casamento não é, contudo, um pecado para Agostinho, embora necessariamente produza o mal da luxúria sexual. Com base na mesma lógica, Agostinho também declarou que as virgens piedosas violadas durante o saque de Roma eram inocentes porque não tinham a intenção de pecar nem de desfrutar do acto.[216]
Antes da Queda, Agostinho acreditava que o sexo era um assunto sem paixão, "tal como muitos trabalhos laboriosos realizados pela operação complacente dos nossos outros membros, sem qualquer calor lascivo", que a semente "poderia ser semeada sem qualquer luxúria vergonhosa, os membros genitais obedecendo simplesmente à inclinação da vontade". Após a Queda, por outro lado, o pênis não pode mais ser controlado pela mera vontade, estando sujeito tanto à impotência indesejada quanto a ereções involuntárias: "Às vezes, o desejo surge indesejado; às vezes, por outro lado, ele abandona o amante ansioso, e o desejo esfria no corpo enquanto queima na mente... Ele desperta a mente, mas não prossegue com o que começou e desperta também o corpo" ( Cidade de Deus 14.16).
Agostinho censurou aqueles que tentam impedir a criação de filhos quando se envolvem em relações sexuais, dizendo que, embora possam ser nominalmente casados, na verdade não o são, mas usam essa designação como um disfarce para a torpeza. Quando permitem que seus filhos indesejados morram de exposição, eles desmascaram seus pecados. Às vezes, eles usam drogas para produzir esterilidade ou outros meios para tentar destruir o feto antes que ele nasça. O casamento deles não é matrimônio, mas sim libertinagem.
Agostinho acreditava que Adão e Eva já tinham escolhido em seus corações desobedecer à ordem de Deus de não comer da Árvore do Conhecimento antes de Eva pegar o fruto, comê-lo e dá-lo a Adão.[217] Consequentemente, Agostinho não acreditava que Adão fosse menos culpado de pecado.[218][219] Agostinho elogia as mulheres e seu papel na sociedade e na Igreja. Em seus Tratados sobre o Evangelho de João, Agostinho, comentando sobre a mulher samaritana de João 4:1–42, usa a mulher como uma figura da Igreja em concordância com o ensino do Novo Testamento de que a Igreja é a noiva de Cristo.[220] “Maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela.” [221]
Agostinho acreditava que “a mulher foi feita para o homem” e que “no sexo ela está fisicamente sujeita a ele da mesma forma que nossos impulsos naturais precisam ser submetidos ao poder de raciocínio da mente, para que as ações às quais eles conduzem possam ser inspiradas pelos princípios da boa conduta”.[222] As mulheres foram criadas como “ajudantes” dos homens para Agostinho.[223]

Agostinho é considerado uma figura influente na história da educação. Uma obra inicial nos escritos de Agostinho é De Magistro (Sobre o Professor), que contém insights sobre educação. Suas ideias mudaram à medida que ele encontrou melhores direções ou melhores maneiras de expressar suas ideias. Nos últimos anos de sua vida, Agostinho escreveu suas Retractationes ( Retratações ), revisando seus escritos e melhorando textos específicos. Henry Chadwick acredita que uma tradução precisa de "retractationes" pode ser "reconsiderações". As reconsiderações podem ser vistas como um tema abrangente da maneira como Agostinho aprendeu. A compreensão de Agostinho da busca pelo entendimento, pelo significado e pela verdade como uma jornada incansável deixa espaço para a dúvida, o desenvolvimento e a mudança.[224]
Agostinho era um forte defensor das habilidades de pensamento crítico. Como as obras escritas eram limitadas naquela época, a comunicação oral do conhecimento era muito importante. Sua ênfase na importância da comunidade como meio de aprendizagem distingue sua pedagogia de algumas outras. Agostinho acreditava que a dialética é o melhor meio de aprendizagem e que esse método deveria servir de modelo para encontros de aprendizagem entre professores e alunos. Os escritos de Agostinho sobre diálogos modelam a necessidade de um diálogo interativo e animado entre os alunos.[224]Ele recomendou adaptar as práticas educacionais para se adequarem à formação educacional dos alunos:
Se um aluno tiver sido bem educado em uma ampla variedade de assuntos, o professor deve ter cuidado para não repetir o que ele já aprendeu, mas desafiar o aluno com material que ele ainda não conhece completamente. Com o aluno que não teve educação, o professor deve ser paciente, disposto a repetir as coisas até que o aluno entenda e compreensivo. Talvez o aluno mais difícil, no entanto, seja aquele com educação inferior que acredita entender algo quando não entende. Agostinho sublinhou a importância de mostrar a este tipo de aluno a diferença entre “ter palavras e ter entendimento” [225] e de ajudar o aluno a permanecer humilde na sua aquisição de conhecimento.
Sob a influência de Beda, Alcuíno e Rabano Mauro, De catechizandis rudibus passou a exercer um papel importante na educação do clero nas escolas monásticas, especialmente a partir do século VIII.[226]
Agostinho acreditava que os alunos deveriam ter a oportunidade de aplicar as teorias aprendidas à experiência prática. Outra grande contribuição de Agostinho para a educação é seu estudo sobre os estilos de ensino. Ele afirmou que há dois estilos básicos que um professor usa ao falar com os alunos. O estilo misto inclui uma linguagem complexa e, às vezes, chamativa para ajudar os alunos a ver a bela arte do assunto que estão estudando. O estilo grandioso não é tão elegante quanto o estilo misto, mas é emocionante e sincero, com o propósito de despertar a mesma paixão nos corações dos alunos. Agostinho equilibrou sua filosofia de ensino com a prática tradicional de disciplina rigorosa baseada na Bíblia.
Agostinho conhecia latim e grego antigo. Ele manteve uma longa correspondência com São Jerônimo a respeito das diferenças textuais existentes entre a Bíblia hebraica e a Septuaginta grega, concluindo que os manuscritos gregos originais eram muito semelhantes aos outros hebraicos, e também que até mesmo as diferenças nas duas versões originais da Sagrada Escritura poderiam esclarecer seu significado espiritual de ter sido inspirado unitariamente por Deus.[227]
Agostinho de Hipona teve que lidar com questões de violência e coerção ao longo de toda a sua carreira, em grande parte devido ao conflito donatista-católico. Ele é um dos poucos autores da Antiguidade que realmente examinou teoricamente as ideias de liberdade religiosa e coerção.[228]:107 Agostinho lidou com a aplicação de punições e o exercício do poder sobre os infratores analisando essas questões de maneira semelhante aos debates modernos sobre a reforma penal.
O seu ensinamento sobre a coerção “envergonhou os seus defensores modernos e irritou os seus detractores modernos” :116porque é visto como algo que o faz parecer "para gerações de liberais religiosos como le prince et patriarche de persecuteurs".[228] :107No entanto, Brown afirma que, ao mesmo tempo, Agostinho torna-se “um defensor eloquente do ideal de punição corretiva” e da reforma do infrator.[229] Russell diz que a teoria da coerção de Agostinho "não foi elaborada a partir de um dogma, mas em resposta a uma situação histórica única" e é, portanto, dependente do contexto, enquanto outros a veem como inconsistente com seus outros ensinamentos.[230]:125
Durante a Grande Perseguição, "Quando os soldados romanos chegaram, alguns dos oficiais entregaram os livros sagrados, vasos e outros bens da igreja em vez de arriscarem penalidades legais" por alguns objetos.[231]:ix Maureen Tilley diz que isso era um problema por volta de 305, que se tornou um cisma por volta de 311, porque muitos dos cristãos do norte da África tinham uma longa tradição estabelecida de uma "abordagem fisicalista à religião".:xv As escrituras sagradas não eram simplesmente livros para eles, mas eram a Palavra de Deus em forma física, portanto eles viam a entrega da Bíblia e a entrega de uma pessoa para ser martirizada como "dois lados da mesma moeda".:ix Aqueles que cooperaram com as autoridades ficaram conhecidos como traditores. O termo originalmente significava aquele que entrega um objeto físico, mas passou a significar "traidor".[231] :ix
Segundo Tilley, após o fim da perseguição, aqueles que haviam apostatado queriam retornar às suas posições na igreja.[231]:xiv Os cristãos do norte da África, os rigoristas que ficaram conhecidos como donatistas, recusaram-se a aceitá-los..[231]:ix, x Os católicos eram mais tolerantes e queriam um estado limpo.[232]:xiv, 69 Pelos próximos 75 anos, ambos os partidos existiram, muitas vezes diretamente um ao lado do outro, com uma linha dupla de bispos para as mesmas cidades..[231]:xv A competição pela lealdade do povo incluía várias novas igrejas e violência.[e]:334 Ainda não se sabe exatamente quando os Circunceliões e os Donatistas se aliaram, mas, durante décadas, eles fomentaram protestos e violência nas ruas, abordaram viajantes e atacaram católicos aleatórios sem aviso, muitas vezes causando danos corporais sérios e não provocados, como espancar pessoas com porretes, cortar suas mãos e pés e arrancar olhos.[233]
Agostinho tornou-se bispo coadjutor de Hipona em 395 e, como acreditava que a conversão deveria ser voluntária, seus apelos aos donatistas eram verbais. Durante vários anos, ele usou propaganda popular, debate, apelo pessoal, Concílios Gerais, apelos ao imperador e pressão política para trazer os donatistas de volta à união com os católicos, mas todas as tentativas falharam.[233]:242, 254 As duras realidades enfrentadas por Agostinho podem ser encontradas em sua Carta 28, escrita ao bispo Novato por volta de 416. Os donatistas atacaram, cortaram a língua e deceparam as mãos do bispo Rogatus, que havia se convertido recentemente ao catolicismo. Um conde anónimo de África enviou o seu agente com Rogatus, e ele também foi atacado; o conde estava "inclinado a prosseguir com o assunto". :120Russell diz que Agostinho demonstra um envolvimento "prático" com os detalhes de seu bispado, mas em um ponto da carta, ele confessa que não sabe o que fazer. “Todas as questões que o afligem estão lá: os donatistas teimosos, a violência da circuncisão, o papel vacilante dos funcionários seculares, o imperativo de persuadir e as suas próprias trepidações.” [234] :120, 121O império respondeu à agitação civil com a lei e sua aplicação e, depois disso, Agostinho mudou de ideia sobre usar apenas argumentos verbais. Em vez disso, ele passou a apoiar o uso da coerção pelo Estado.[228]:107–116 Agostinho não acreditava que a imposição do império "tornaria os donatistas mais virtuosos", mas acreditava que os tornaria "menos cruéis"."[230]:128
O principal 'texto-prova' do que Agostinho pensava sobre coerção está na Carta 93, escrita em 408, como resposta ao bispo Vincentius, de Cartagena (Mauretânia, Norte da África). Esta carta mostra que razões práticas e bíblicas levaram Agostinho a defender a legitimidade da coerção. Ele confessa que mudou de opinião devido à “ineficácia do diálogo e à eficácia comprovada das leis”. :3Ele estava preocupado com falsas conversões se a força fosse usada, mas "agora", diz ele, "parece que a perseguição imperial está a funcionar". Muitos donatistas tinham-se convertido.[230]:116 "O Medo os fez refletir e os tornku mais dóceis."[235]:3 Agostinho continuou afirmando que a coerção não poderia converter alguém diretamente, mas concluiu que poderia tornar uma pessoa pronta para ser discutida.[236]
Segundo Mar Marcos, Agostinho fez uso de vários exemplos bíblicos para legitimar a coerção, mas a analogia primária na Carta 93 e na Carta 185 é a parábola da Grande Festa em Lucas 14.15–24 e sua declaração os obriga a entrar. :1 Russell diz que Agostinho usa o termo latino cogo, em vez do compello da Vulgata, já que para Agostinho, cogo significava "reunir" ou "coletar" e não simplesmente "compelir pela força física".[230]:121
Em 1970, Robert Markus[237] argumentou que, para Agostinho, um certo grau de pressão externa exercida com o propósito de reforma era compatível com o exercício do livre-arbítrio. Russell afirma que Confissões 13 é crucial para entender o pensamento de Agostinho sobre a coerção; usando a explicação de Peter Brown sobre a visão de Agostinho sobre a salvação, ele explica que o passado de Agostinho, seus próprios sofrimentos e "conversão através das pressões de Deus", juntamente com sua hermenêutica bíblica, é o que o levou a ver o valor do sofrimento para discernir a verdade.[230]:116–117 Segundo Russell, Agostinho via a coerção como uma entre muitas estratégias de conversão para formar "um caminho para a pessoa interior".[230]:119
Na visão de Agostinho, existe perseguição justa e injusta. Agostinho explica que quando o propósito da perseguição é corrigir e instruir amorosamente, então ela se torna disciplina e é justa. :2 Ele disse que a igreja disciplinaria seu povo por um desejo amoroso de curá-los e que, "uma vez compelidos a entrar, os hereges gradualmente dariam seu consentimento voluntário à verdade da ortodoxia cristã".[230]:115 Frederick H. Russell[238] descreve isso como "uma estratégia pastoral na qual a igreja realizava a perseguição com a assistência obediente das autoridades romanas","[230]:115 acrescentando que é "uma mistura precariamente equilibrada de disciplina externa e nutrição interna."[230]:125
Agostinho impôs limites ao uso da coerção, recomendando multas, prisão, banimento e açoites moderados, preferindo espancamentos com varas, que era uma prática comum nos tribunais eclesiásticos.[239]:164 Ele se opôs à severidade, à mutilação e à execução de hereges.[240] Embora esses limites tenham sido em grande parte ignorados pelas autoridades romanas, Michael Lamb diz que, ao fazer isso, "Agostinho se apropria dos princípios republicanos de seus predecessores romanos..." e mantém seu compromisso com a liberdade, a autoridade legítima e o Estado de direito como uma restrição ao poder arbitrário. Ele continua a defender a responsabilização da autoridade para evitar a dominação, mas afirma o direito do Estado de agir.
Herbert A. Deane,[241] por outro lado, diz que há uma inconsistência fundamental entre o pensamento político de Agostinho e "sua posição final de aprovação do uso de armas políticas e legais para punir a dissidência religiosa" e outros apoiaram essa visão.[f] Brown afirma que o pensamento de Agostinho sobre coerção é mais uma atitude do que uma doutrina, pois "não está em um estado de repouso", mas é marcado por "uma tentativa dolorosa e prolongada de abraçar e resolver tensões.":107
Segundo Russell, é possível ver como o próprio Agostinho evoluiu de suas Confissões anteriores para este ensinamento sobre coerção e a forte natureza patriarcal deste último: "Intelectualmente, o fardo mudou imperceptivelmente da descoberta da verdade para a disseminação da verdade."[230]:129Os bispos tornaram-se a elite da Igreja, com sua própria justificativa para agir como "administradores da verdade". Russell aponta que as visões de Agostinho se limitam ao tempo, ao lugar e à sua própria comunidade, mas, mais tarde, outros adotaram o que ele disse e aplicaram-no fora desses parâmetros, de maneiras que Agostinho jamais imaginou ou pretendeu.[230]:129

Agostinho foi um dos mais prolíficos autores latinos em termos de obras sobreviventes e a lista de seus trabalhos tem mais de cem títulos diferentes. Entre eles estão obras apologéticas contra as heresias dos arianos, donatistas, maniqueístas e pelagianos; textos sobre a doutrina cristã, principalmente "De Doctrina Christiana" ("Sobre a Doutrina Cristã"); obras exegéticas como comentários sobre o Gênesis, os Salmos e a carta de Paulo aos Romanos; diversos sermões e cartas; e uma "Retractationes", uma revisão de suas primeiras obras escrita no final de sua vida. Além destas, Agostinho é também bastante conhecido por suas "Confissões", que é um relato pessoal de seus primeiros anos, e pela "Cidade de Deus" (De Civitate Dei; em 22 livros), que ele escreveu para restaurar a confiança aos seus companheiros cristãos abalados pelo saque de Roma pelos visigodos em 410. Sua "Sobre a Trindade", na qual ele desenvolve a tese conhecida como "analogia psicológica" da Trindade, é uma de suas obras primas e possivelmente uma das maiores obras teológicas de todos os tempos. Finalmente, Agostinho escreveu ainda "Sobre a Livre Escolha da Vontade" ("De libero arbitrio"), que trata do motivo pelo qual Deus dá aos homens o livre arbítrio que depois pode ser usado para realizar o mal.[242]
Tanto em sua argumentação filosófica quanto na teológica, Agostinho foi fortemente influenciado pelo estoicismo, platonismo e neoplatonismo, particularmente pela obra de Plotino, o autor das "Enéadas", provavelmente por intermédio de Porfírio e Vitorino (como defendeu Pierre Hadot). Embora ele tenha depois abandonado o neoplatonismo, algumas ideias ainda transparecem em suas primeiras obras. Sua obra primal e influente sobre o livre arbítrio, um tema central da ética, tornar-se-ia o foco de filósofos posteriores como Schopenhauer, Kierkegaard e Nietzsche. Agostinho foi influenciado também por Virgílio (conhecido por suas obras sobre a linguagem), Cícero (conhecido por suas obras sobre a argumentação) e Aristóteles (principalmente a "Retórica" e a "Poética").[243]
Tomás de Aquino foi fortemente influenciado por Agostinho. No tema do pecado original, Aquino propôs uma visão mais otimista do homem que a de Agostinho ao preservar os poderes da razão, vontade e das paixões do homem caído mesmo depois da queda. A doutrina de Agostinho sobre a graça eficaz encontrou uma eloquente expressão na obra de Bernardo de Claraval.[105]
O filósofo Bertrand Russell se impressionou com a meditação sobre a natureza do tempo de Agostinho nas "Confissões" e comparou-a favoravelmente à de Kant, que afirmava que o tempo é subjetivo.[244] Teólogos católicos geralmente subscrevem a crença de Agostinho de que Deus existe "fora do tempo" num "eterno presente"; que o tempo só existe dentro do universo criado por que apenas no espaço é possível discernir o tempo, através do movimento e das mudanças. Estas meditações estão intimamente ligadas às suas considerações sobre a habilidade humana da memória. Frances Yates, em seu estudo "A Arte da Memória", de 1966, defende que uma curta passagem de "Confissões" (10.8.12), na qual Agostinho escreve sobre a subida de um lance de escadas e a entrada nos vastos campos da memória[245] claramente indica que os antigos romanos estavam cientes de como utilizar metáforas espaciais e arquiteturais explícitas como uma técnica mnemônica para organizar grandes quantidades de informação.
O método filosófico de Agostinho, demonstrado especialmente em suas "Confissões", exerceu uma contínua influência sobre a filosofia europeia continental por todo o século XX. Sua abordagem descritiva sobre a intencionalidade, memória e linguagem conforme estes fenômenos são experimentados no tempo e na consciência anteciparam e inspiraram ideias na moderna fenomenologia e hermenêutica.[246] Edmund Husserl escreveu:
"A análise da consciência do tempo é uma antiga crux da psicologia descritiva e da teoria do conhecimento. O primeiro pensador a ser profundamente sensível às imensas dificuldades neste campo foi Agostinho, que trabalhou quase a ponto de se desesperar sobre este problema".[247]
Martin Heidegger faz referência à filosofia descritiva de Agostinho em diversos pontos de sua obra mais influente, "Ser e Tempo". Hannah Arendt começou sua carreira filosófica com uma dissertação sobre o conceito de amor de Agostinho, "Der Liebesbegriff bei Augustin" (1929):
A jovem Arendt tentou mostrar que a base filosófica para a "vita socialis" em Agostinho pode ser entendida como sendo o amor entre vizinhos com base em sua compreensão da origem comum da humanidade".[248]
Jean Bethke Elshtain em "Augustine and the Limits of Politics" ("Agostinho e os Limites da Política") encontrou relações entre Agostinho e Arendt em seus respectivos conceitos sobre o mal:
"Agostinho não via o mal como glamorosamente demônico, mas, ao invés disso, como uma ausência do bem, algo que paradoxalmente é, na realidade, nada. Arendt... vislumbrou o mal extremo que produziu o Holocausto como meramente banal ".[249]
Ludwig Wittgenstein citou Agostinho extensivamente em suas "Investigações Filosóficas" por sua abordagem a linguagem, tanto de forma positiva quanto como contraponto para suas próprias ideias, incluindo uma longa passagem de abertura das "Confissões". Em seu livro autobiográfico, "Milestones", o papa Bento XVI afirmou que Agostinho foi uma de suas mais importantes influências.[250]
De acordo com Leo Ruickbie, os argumentos de Agostinho contra a Mágica, que a diferenciavam dos milagres, foram cruciais para a luta do cristianismo primitivo contra o paganismo e transformaram-se na tese central na denúncia posterior contra bruxas e a bruxaria. De acordo com o professor Deepak Lal, a visão de Agostinho sobre a "cidade celeste" influenciou projetos e tradições seculares do iluminismo, marxismo, freudianismo e o eco-fundamentalismo.[250]
Agostinho foi interpretado por Dary Berkani no filme para televisão de 1972 "Augustine of Hippo". Ele foi interpretado também por Franco Nero na mini-série de 2010 "Augustine: The Decline of the Roman Empire" e no filme de 2012 "Restless Heart: The Confessions of Saint Augustine"[251] O nome moderno está ligado à Família Agostinelli.[252]
Bob Dylan gravou uma música chamada "I Dreamed I Saw St. Augustine" em seu álbum "John Wesley Harding". O artista pop Sting homenageou de certa forma as lutas de Agostinho contra o desejo na música "Saint Augustine in Hell" ("Santo Agostinho no Inferno") que aparece no álbum de 1993 do cantor, "Ten Summoner's Tales".
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